tag:blogger.com,1999:blog-41107871333641903772024-03-13T22:42:41.460-03:00A Rainha de ChuteirasCrônicas do livro A Rainha de Chuteiras: 200 dias de futebol na Inglaterra, Escócia e Gales, ainda a ser publicado. Serão postadas as crônicas já publicadas em jornais e revistas e algumas inéditas, semanalmente (terças-feiras). E também fotos exclusivas, diariamente.Marcos Alvitohttp://www.blogger.com/profile/04782210285593838126noreply@blogger.comBlogger23125tag:blogger.com,1999:blog-4110787133364190377.post-11988946262359350732013-01-08T08:34:00.002-02:002013-01-08T08:34:44.635-02:00Saiu o livro A Rainha de Chuteiras<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://3.bp.blogspot.com/-tLo0pLVCXdQ/UOv1PdnpQjI/AAAAAAAAKK0/cLrpotDk4Kg/s1600/A+rainha+de+chuteiras+-+CAPA.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-tLo0pLVCXdQ/UOv1PdnpQjI/AAAAAAAAKK0/cLrpotDk4Kg/s320/A+rainha+de+chuteiras+-+CAPA.jpg" width="222" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">A Rainha de Chuteiras agora em livro e ebook, disponível em : <a href="http://www.clubedeautores.com.br/books/search?utf8=%E2%9C%93&what=A+Rainha+de+Chuteiras&sort=&commit=BUSCA">http://www.clubedeautores.com.br/books/search?utf8=%E2%9C%93&what=A+Rainha+de+Chuteiras&sort=&commit=BUSCA</a><br /></td></tr>
</tbody></table>
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Marcos Alvitohttp://www.blogger.com/profile/04782210285593838126noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4110787133364190377.post-33321254370601646952008-03-04T09:34:00.003-03:002008-03-04T11:00:09.657-03:00Blue Square Premier, ou: "feliz daquele que sabe sofrer"<strong></strong><br /><strong></strong><br /><strong><a href="mailto:Car@s">Car@s</a> <a href="mailto:leitor@s">leitor@s</a> , tenho boas e más notícias. A boa notícia é que há uma ótima editora interessadíssima em publicar <em>A Rainha de Chuteiras</em>. Assim que eu terminar de escrever eles irão apreciar a proposta, mas as chances são muito boas. O problema é que não posso postar todo o conteúdo do livro no blog... Gostaria de agradecer muito todo o apoio de vocês, as generosas mensagens e, principalmente, o fato de entrarem aqui para ler as crônicas. Espero que entendam minha sinuca de bico. Aqueles que estiverem interessados em receber uma mensagem - e apenas uma - avisando acerca da publicação do livro, por favor mandem um e-mail para <a href="mailto:arainhadechuteiras@gmail.com">arainhadechuteiras@gmail.com</a> . E lá vai a última crônica, por enquanto...</strong><br /><strong></strong><br /><strong>um grande abraço e muito obrigado a <a href="mailto:tod@s">tod@s</a>,</strong><br /><strong></strong><br /><strong>Marcos Alvito</strong><br /><strong></strong><strong></strong><br /><strong></strong><br /><strong>Blue Square Premier, ou: “feliz daquele que sabe sofrer”</strong><br /><br />O verso, que parece zen-budista, é do inigualável Nelson Cavaquinho: “feliz daquele que sabe sofrer”. Só assim para explicar o que aconteceu naquela partida. Mas vamos começar do começo. Joguinho da 5a. Divisão: Oxford United versus Rushden & Diamonds. Dia de semana e à noite. Pra piorar, o jogo não era em Oxford, onde eu estava morando e sim no Nene Park, a duas horas de distância. Espero o ônibus do clube no estacionamento de um rink de patinação. Por falar em gelo estava fazendo bastante frio naquele fim de tarde. Eu embarco no ônibus com mais duas dúzias de infelizes torcedores do Oxford United.<br />Parêntesis: o Oxford United é uma equipe com alguma tradição, que já jogou algumas temporadas na Primeira Divisão e até ganhou a Milk Cup em 1986. Nunca ouviram falar? Pois a Milk Cup (“Copa do Leite” pra quem se amarra em uma tradução) era o nome dado à competição disputada somente pelos 92 clubes da Primeira Divisão – que à época tinha o pouco imaginativo e nada marqueteiro nome de Primeira Divisão mesmo. Pois é, o Oxford United foi gloriosamente sagrado campeão naquele ano de 1986. E de lá pra cá... Encurtando a história, há duas temporadas que os Yellows vêm comendo o pão que o diabo amassou na 5a. Divisão, que hoje ostenta o portentoso nome de Blue Square Premier.<br />No começo da temporada 2007-8, ou melhor, antes da bola rolar, o Oxford United era favorito a ser promovido e as casas de apostas estavam pagando apenas 2 por 1. Como eu sei? Pelo menos só apostei duas libras... Enfim, começa o campeonato e o Oxford vai de mal a pior. A cada semana, imprensa, técnico, jogadores e torcedores pensavam: daqui pra frente vamos vencer todas, sábado vai começar nossa recuperação. Chegava o sábado à tarde e neca de pitibiriba: derrotas acachapantes, um empatezinho ali outro aqui e muito de vez em quando uma vitória suada. A temporada começou em agosto e lá naquele primeiro dia de novembro o jogo contra o Rushden & Diamonds parecia ser a última chance: “é agora ou nunca”, “vamos com tudo”, “ninguém nos segura” e por aí vai. Como teria dito Garrincha certa vez depois de ouvir a preleção do técnico, cheia de planos e táticas mirabolantes: “já avisaram isso tudo pro outro time?”<br />O jogo era à noite e no meio da semana para poder ser televisado pela Setanta Sports, uma espécie de segunda divisão de canal a cabo que transmite aquilo que sobrou da Sky Sports. A notícia do televisionamento não agradou aos torcedores do Oxford. Sabe como é. Torcedor que se preza é supersticioso. E mesmo não sendo, seria coincidência que os seis jogos anteriores transmitidos pela Setanta tivessem acabado em derrota pra nós? Sim, pra nós, caro leitor, pois agora vou confessar o inconfessável: eu havia virado torcedor dos Yellows.<br />Era em meio desse turbilhão de emoções que íamos no ônibus, ouvindo uma daquelas rádios de esportes em que o locutor parece que engoliu um microfone. O ônibus até que estava meio vazio, mas ao chegar lá a surpresa: havia mais de 400 torcedores do Oxford, o que para um time de 5a. Divisão com parcas esperanças de ser promovido, uma noite fria no meio da semana e um jogo transmitido pela Setanta ... Jogando fora, o United entrou com seu belo uniforme todo azul e foi saudado calorosamente por nós.<br />Não havia dúvida de que o destino histórico do clube era jogar na primeira divisão ao lado de Arsenal, Manchester United, Liverpool e outros menos cotados. Se estavamos ali no Nene Park naquela fria noite de novembro era por causa de uma recorrente falta de sorte, de algumas terríveis coincidências, do aquecimento global e da Guerra do Iraque. Assim que a bola rolasse nossa superioridade insofismável seria confirmada com uma goleada arrasadora e humilhante. Rushden & Diamonds: “Who are you?”, cantamos todos a plenos pulmões.<br />Com apenas onze minutos o placar já estava 2x0. Para eles. Mas nós continuavamos confiantes: “Vamos vencer de 3x2”, cantamos para lembrar aos torcedores do Rushden & Diamonds quem mandava ali. E logo mudamos para “Vamos vencer de 4x3” quando ainda antes do fim do primeiro tempo tomamos o terceiro gol. No intervalo, o repórter da Setanta Sports que gravava ao vivo a pouca distância da nossa torcida ouviu um corinho: “Você é uma sobra da Sky, você é uma sobra da Sky”. Quiçá alguns de nossos torcedores mais pessimistas já estivessem pensando: sete partidas transmitidas por eles, sete derrotas...<br />Começa o segundo tempo e tudo muda: nosso time mostra outra disposição, outra atitude dentro de campo. Nosso técnico deve ter feito um milagre no vestiário. Pena que o Rushden & Diamonds faz 4x0 e não demora muito 5x0. Até cantamos que iríamos vencer de 5x4 e em seguida de 6x5. Mas logo resolvemos mostrar nossa incomparável originalidade. E cantamos tão simplesmente: “Queremos seis! Queremos seis!”. Sem esperar que nossa poderosa equipe marcasse ao menos o que outras torcidas, acostumadas à derrota, costumam chamar de “gol de honra” ou “gol de consolação”, o que aliás não ocorreu naquele dia, inventamos uma realidade paralela. Comemoramos um gol imaginário. “Vamos fazer de conta que marcamos um gol”, gritou um gaiato. Em seguida levantamos, abrimos os braços e gritamos “Goal, goal”. A festa começava ali: com os ânimos exaltados por tão belo tento, dezenas dos nossos torcedores subiam e desciam as arquibancadas fazendo um trenzinho e cantando com a alegria que só o futebol proporciona: “Vamos dançar a conga, vamos dançar a conga”.<br />“Feliz daquele que sabe sofrer!”Marcos Alvitohttp://www.blogger.com/profile/04782210285593838126noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-4110787133364190377.post-4704926808356854262008-02-26T08:24:00.003-03:002008-02-26T14:39:30.142-03:00O bom humor do primo pobreO bom-humor do primo pobre<br /><br />Há males que vêm para bem, ensina a sabedoria popular. O futebol escocês pode ser considerado um primo pobre do futebol inglês. O “mercado” escocês tem dimensões diminutas, com uma população igual à da cidade do Rio de Janeiro. Isso não representa um décimo da população inglesa, sem falar na diferença de poder aquisitivo. Este quadro impõe condições financeiras franciscanas se comparadas à milionária Premier League inglesa. Por um lado, isso faz com que os clubes escoceses tenham dificuldades em competir de igual para igual não somente com os clubes ingleses mais importantes mas também com os poderosos clubes italianos, espanhóis e alemães. Essa relativa “pobreza” tem seus benefícios em termos de ingressos ainda acessíveis à grande maioria dos torcedores e por dar mais chances aos jogadores escoceses diante de uma legião estrangeira bem menor e menos qualificada do que a da Premier League inglesa.<br />Mas esses assuntos já foram tratados na crônica “Visitando o Paraíso”. Agora gostaria de tratar do senso de humor escocês. Ninguém fala nele. A Escócia é sempre lembrada pelo trio whisky, homens de saias (kilts) e castelos. Comparado com o humor inglês, famoso pela sutileza e ironia, o humor escocês é bem mais direto e, pelo menos para um brasileiro, extremamente engraçado. Um dos meios de entrar em contato com um país é a leitura dos jornais diários. Assim que cheguei a Glasgow para assistir a Celtic versus Hearts, comprei o <em>The Herald</em> e, como sempre, fui direto ao caderno de esportes. Na última página havia a coluna de um jornalista com o nome mais escocês possível: Hugh MacDonald. Na semana anterior, tinha havido um enorme debate na imprensa inglesa, condenando o plano da Premier League de realizar uma rodada inteira em cinco cidades no exterior a partir da temporada 2010-11. Muitos consideraram isso o fim da picada (inclusive eu, que pretendo escrever uma crônica a respeito). MacDonald não perdeu a chance de ironizar a descoberta dos colegas de que o futebol havia se tornado uma máquina de fazer dinheiro. A começar pelo título do seu artigo: “Why football has no soul left to sell” (“Porque o futebol não tem mais alma para vender”). E no decorrer do artigo ele alfinetou:<br /><br />“Alguns colunistas lamentaram o fato de que a Premier League vendeu a alma do jogo. Alma? Do futebol? O Diabo não iria querer a alma do futebol nem que você oferecesse a ele pagar em suaves prestações.”<br /><br />Quanto à acusação de cobiça feita aos clubes, MacDonald também não perdoa:<br /><br />“Ora, o negócio dos clubes é fazer dinheiro. Uma pista: eles cobram na entrada. E cobram com o entusiasmo de guerreiros mongóis em uma tarde de pilhagem sem limites, com direito a serviço de bar e buffet coma-o-que-puder, servido por mil virgens vestais.”<br /><br />É ou não é bem diferente do humor inglês? Outro colunista do <em>The Herald</em>, Kenny Hodgard, reclamava do excessivo controle imposto aos torcedores dentro do estádio:<br /><br />“Quem se levantar durante o jogo é visto como alguém que acaba de soltar um peido entre dois movimentos de um concerto de música clássica. Você não pode beber, você não pode fumar e nem mesmo duvidar da sexualidade do juiz.”<br /><br />Por falar em jogo, naquela tarde, antes de entrar no Celtic Park comprei um fanzine chamado “Not the view”. Vejam só como os editores se apresentam:<br /><br />“Essa porcaria é feita por torcedores do Celtic que não são os maiorais nem tampouco são inteligentes. (...) É produzida em um computador Mac da Apple que tem vontade própria mas o amamos assim mesmo.”<br /><br />Se eles pensam isso deles mesmos, imaginem o que eles dizem dos torcedores do arqui-inimigo Rangers? “Bluenoses” (narizes azuis), Orcs (viram o filme “Senhor dos Anéis”?), hunos e animais são as formas carinhosas deles se referirem aos torcedores do Rangers. Lamentam que as autoridades de Barcelona estejam predispostas contra os escoceses depois da mal comportada visita dos narizes azuis, bebendo pelas ruas e urinando por todo o lado.<br />Também há espaço para comentar acerca de dois jogadores poloneses que foram dispensados pelo clube. Maciej Zurawski, um jogador de seleção e de boa técnica, é lembrado por sumir nos jogos importantes, só jogando bem contra pequenos. Seu compatriota Jiri Jarosik, diz o fanzine, era o contrário: jogava bem nas partidas contra Milan e cia e simplesmente desaparecia contra o Saint Mirren ou o Motherwell. Acerca de Jarosik, eles lembram uma tirada implacável do técnico do Celtic, Gordon Strachan. Durante a já tradicional conferência de imprensa para apresentar as novas contratações, o próprio Jarosik descreveu a si próprio como um meio campista capaz de chutar e marcar gols com ambas as pernas. Strachan foi ácido com seu novo jogador diante dos repórteres: “Maravilha, então você é ainda melhor do que eu pensava”.<br />A melhor de todas estava no <em>Sunday Herald</em>, com os resultados da rodada de sábado e comentários acerca dos jogos. Era a matéria acerca do jogo Falkirk 4x0 Saint Mirren. Três dias antes o pequeno Saint Mirren tinha eliminado o favorito Dundee United da Copa da Escócia, jogando fora de casa. Eu vira o jogo pela televisão e ficara admirado com a elasticidade e os reflexos de Mark Howard, o goleiro do Saint Mirren que garantiu a mirrada vitória por 1x0. Na tarde de sábado a sorte de Howard mudou e ele papou dois frangos na goleada sofrida diante do Falkirk. Vejam só o que o técnico da equipe, Gus McPherson (tinha que ser um Mc alguma coisa), disse sobre o seu goleiro diante da imprensa escrita, falada e televisada:<br /><br />“Pois é, na 4a. feira todos os comentaristas o aplaudiram por uma atuação fenomenal e hoje ele cometeu uma série de erros. Eu nunca entendi porquê os goleiros escolhem essa posição, mas quem escolheu ser goleiro foi ele”<br /><br />O mesmo McPherson fez uma piada involuntária sobre sua capacidade crítica como técnico. Depois de ver seu time tomar de quatro ele teve a coragem de dizer o seguinte: “Acho que jogamos razoavelmente bem. Eu não acho que tenha havido uma grande diferença entre os dois times.”<br />Só quatro gols...Marcos Alvitohttp://www.blogger.com/profile/04782210285593838126noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4110787133364190377.post-45453921960820419982008-02-19T13:43:00.004-03:002008-02-21T08:24:34.472-03:00Visitando o ParaísoDepois de uma semana em branco, voltamos a publicar no blog. Para compensar, uma crônica inédita sobre meu primeiro jogo de futebol na Escócia. A rainha de chuteiras, saias e gaitas de fole...<br /><br /><p class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family:Century Gothic, sans-serif;font-size:130%;"><b>Visitando o Paraíso</b></span></p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;" align="justify"><span style="font-family:Century Gothic, sans-serif;"> Ainda hoje, a zona leste (East End) de Glasgow é a área mais pobre da cidade, um árido cenário de conjuntos residenciais e ruas com aspecto de abandono. Mas é ali que fica o Paraíso. Pelo menos para os torcedores do Celtic Football Club, que vêem Celtic Park, seu estádio, como um Céu na Terra. A terminologia bíblica não é coincidência: o clube foi fundado por Irmão Walfrid, um frei marista nascido na Irlanda. Sua família fora forçada a imigrar para a Escócia pela Grande Fome que atingiu a Irlanda na metade do século XIX. Calcula-se que um milhão de irlandeses morreram e mais um milhão abandonou a terra natal em busca da sobrevivência. Os que podiam iam para a América ou Canadá. Os mais pobres – dentre os quais os católicos eram a maioria – iam para os centros industriais mais importantes da Grã-Bretanha: Londres, Manchester e, por fim, Glasgow.</span></p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;" align="justify"><span style="font-family:Century Gothic, sans-serif;"> Ao chegar, os irlandeses, em sua maioria ex-camponeses, eram mão-de-obra barata, fazendo os serviços mais pesados e desagradáveis nas minas de carvão, nos portos e nas fábricas. Viviam amontoados em cortiços, sem condições sanitárias, alimentando-se mal e vestindo-se com trapos. Seus empregadores ingleses tinham uma opinião ambígua sobre eles, como lembra o historiador E.P.Thompson. Por um lado, viam os irlandeses como uma força bruta ideal: bem-humorados, generosos e impulsivos, dispostos ao trabalho pesado ao ponto de arruinarem a própria saúde. Mas eram considerados mais violentos e irritadiços, faladores, indisciplinados e incapazes de trabalhos mais qualificados ou complexos. Em suma, eram vistos como menos civilizados, moralmente ou até racialmente inferiores aos ingleses e aos escoceses.</span></p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;" align="justify"><span style="font-family:Century Gothic, sans-serif;"> No final do século XIX, Glasgow era uma potência industrial: seus estaleiros fabricavam os maiores navios do planeta, ali eram feitas as locomotivas a vapor usadas em todo o Império Britânico, sem falar na florescente indústria têxtil. Muitos estabelecimentos ficavam no East End, aproveitando a mão-de-obra barata dos imigrantes irlandeses. O East End era um verdadeiro gueto irlandês em Glasgow, cuja sociedade era não só protestante como também fortemente anti-católica. Católico era sinônimo de pobre, atrasado e, não menos importante, de irlandês. Os pastores protestantes iniciaram um trabalho “civilizatório” oferecendo sopas aos pobres irlandeses em troca da conversão religiosa. A Igreja Católica contra-atacou e o Irmão Walfrid começou a servir sopa às crianças do East End. A taxa de mortalidade do bairro era assustadoramente alta, muitas crianças morriam de fome ou doença antes dos cinco anos. Inspirado no exemplo do Aberdeen, um clube de futebol católico fundado em Edimburgo, Irmão Walfrid funda um clube de futebol com o intuito de financiar a alimentação dos filhos dos imigrantes irlandeses do East End. Ele logo teve o apoio de alguns empresários locais e políticos interessados na população irlandesa. Em 1888, nascia o Celtic Football Club. </span> </p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;" align="justify"><span style="font-family:Century Gothic, sans-serif;"> Quis o destino que o primeiro jogo disputado pelo novo clube fosse contra o Rangers, clube que iria tornar-se seu arqui-inimigo em uma rivalidade de conotações religiosas e políticas explosivas. O Celtic ganhou de 5x2, diante de um público de 2.000 pessoas. Jogaram no primeiro Celtic Park, um estádio construído em mutirão pela população do bairro, o que demonstra o sucesso da iniciativa de Irmão Walfrid. Embora o Celtic tenha sido fundado para ajudar a população católica do East End, jamais foi pensado como um clube exclusivamente católico ou anti-protestante. O próprio nome, Celtic, era uma menção explícita a uma origem cultural compartilhada por irlandeses e escoceses. O Celtic recrutava os seus jogadores predominantemente entre os imigrantes irlandeses (e católicos), com os padres católicos servindo de olheiros espalhados por toda a Escócia. Mas nunca proibiu a contratação de jogadores protestantes e vários dos seus ídolos foram não-católicos.</span></p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;" align="justify"><span style="font-family:Century Gothic, sans-serif;"> O mesmo não aconteceu com o Rangers, que construíu uma identidade anti-católica e anti-Celtic. A proibição à contratação de jogadores católicos foi um dogma de ferro, só quebrado definitivamente há menos de 20 anos, em 1989. A independência da Irlanda (Eire) em 1921 e as disputas entre católicos e protestantes na Irlanda do Norte – que permaneceu sob o controle inglês, apimentaram a disputa Celtic x Rangers e fizeram dos jogos entre os dois verdadeiros barris de pólvora, com incidentes violentos sendo registrados já em 1896. De um lado o Rangers: escocês, protestante e favorável à união com a Inglaterra. Do outro o Celtic: irlandês, católico e rebelde diante da dominação inglesa. O Rangers de camisa azul e calção branco, cores da bandeira escocesa. O Celtic, de camisa verde e branca (listras horizontais) e calções brancos, duas das três cores da bandeira da irlanda. Sem falar no escudo, o tradicional trevo de quatro folhas irlandês. [ou celta?]</span></p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;" align="justify"><span style="font-family:Century Gothic, sans-serif;"> Os dirigentes do Rangers e do Celtic e até estimularam essa rivalidade, extremamente lucrativa para os cofres dos dois clubes. Até hoje o maior público do futebol escocês é um Celtic x Rangers com mais de 118 mil pessoas disputado em 1939. Começou até mesmo a haver suspeitas de que Celtic e Rangers armavam empates para obrigar à realização de partidas extras. Foi isso que deu ao clássico o nome de “Velha Firma”. Um cartum publicado na imprensa mostrava um homem carregando um cartaz que dizia: “Apoie a Velha Firma: Celtic x Rangers Companhia Limitada”. </span> </p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;" align="justify"><span style="font-family:Century Gothic, sans-serif;"> <i>Ainda</i> não consegui assistir a um Celtic x Rangers, mas pelo menos fui ao Paraíso, quer dizer, ao Celtic Park, ver o time de Irmão Walfrid contra o Hearts de Edimburgo. Era um jogo importante para o Celtic, que estava quatro pontos atrás do líder Rangers. O Hearts é um clube tradicional, mas que vive uma situação inquietante: há poucos anos foi comprado por um irrequieto milionário lituano chamado Vladimir Romanov. Apesar de reerguer as combalidas finanças, Romanov dirige o clube com mão-de-ferro, despedindo e contratando técnicos da noite para o dia e, dizem, até escalando o time. Em 2006, depois de ver seu time perder em casa para o Kilmarnock por dois a zero, ameaçou por seus jogadores à venda se não ganhassem a partida seguinte. Além disso, ele tem uma queda por jogadores lituanos que nem sempre beneficia o clube dentro de campo e fora dele levanta suspeitas de transações ilícitas. Afinal, Mr. Romanov é dono de um time na Lituânia e é influente em pelo menos metade dos times da liga local. O Hearts estava na parte de baixo da tabela, em oitavo lugar, 22 pontos atrás do Celtic. Mas na visão do meu amigo escocês Raymond Boyle, é um time perigoso e imprevisível, que tanto poderia jogar maravilhosamente bem e derrotar o Celtic quanto tomar uma goleada.</span></p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;" align="justify"><span style="font-family:Century Gothic, sans-serif;"> Vamos para o East End no carro de Raymond, professor da Universidade de Glasgow. Quando vejo que seu carro é verde, brinco com ele. Raymond responde bem-humorado dizendo que seria incapaz de ter um carro azul ou, se o tivesse, pelo menos iria mandar pintar umas tiras brancas. Eu me encontrara com ele para almoçar antes de irmos para o jogo. Naquela manhã eu chegara em Glasgow de avião e ficara admirado com a quantidade de torcedores do Celtic que vira pelas ruas, muitos deles irlandeses que haviam viajado de avião como eu para aquele jogo. </span> </p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;" align="justify"><span style="font-family:Century Gothic, sans-serif;"> Ao chegarmos no East End, havia um mar de camisas e cachecóis verde e brancos. Em um pub de esquina, um grupo de torcedores do Celtic empunhava alegremente seus copos de cerveja. Estavam aproveitando, porque o consumo de álcool é proibido nos estádios escoceses desde 1980, proibição que persiste depois de 28 anos. Embora as autoridades escocesas já estivessem estudando esta medida desde 1977, a gota d'água (sem trocadilho) foi um conflito de grandes dimensões ocorrido em um jogo entre Rangers e Celtic em 1980. O aspecto pouco cuidado do bairro, o clima de festa, os <i>trailers</i> vendendo hamburgers, a grande quantidade de ambulantes e suas barraquinhas com <i>pins</i>, camisas e cachecóis do Celtic, tudo isso me lembrou um pouco o Brasil.</span></p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;" align="justify"><span style="font-family:Century Gothic, sans-serif;"> As semelhanças param aí, porque o Celtic Park é um estádio moderno, que foi reconstruído em 1988, ano do centenário do clube. Para estabelecer um elo simbólico com a tradição, uma parte do antigo estádio foi preservada e incorporada ao novo. Em frente a esse setor, há uma estátua de Irmão Walfrid, que foi feita somente com dinheiro arrecadado pelos torcedores, sem nenhuma ajuda do clube. Irmão Walfrid, com sua expressão tranquila e a Bíblia no colo, parecia deslocado em meio ao clima efervescente que precede uma partida de futebol. </span> </p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;" align="justify"><span style="font-family:Century Gothic, sans-serif;"> Havia muitos jovens e o público era aparentemente da classe trabalhadora. Na conversa que tivemos durante o almoço, Raymond sublinhou que na Escócia o público de futebol não foi “desconstruído”. Isso ocorreu na Inglaterra, onde a Premier League tornou-se monopólio da classe média e alta, setores que, ironicamente, antes consideravam o futebol coisa de pobre. Na Escócia, diz Raymond, a classe média sempre foi ao futebol, a classe alta idem. O futebol está entranhado de alto a baixo na sociedade escocesa. Na Escócia não houve uma gentrificação do futebol porque aqui o mercado é outro, bem menor e menos atrativo do que na Inglaterra. A Escócia é um país de 5 milhões, contra 60 milhões de habitantes na Inglaterra. Aqui o dinheiro da TV não chegou, não se pode cobrar a mesma coisa pelos ingressos. O <i>season ticket</i> de Raymond, cartão que lhe dá ingresso a todos os jogos da temporada, custa cerca de 400 libras, enquanto um season ticket do Arsenal custa 1000 libras. O que há em comum é que em ambos os casos há uma lista de espera de vários anos. Eu comprei o ingresso para aquele jogo por 28 libras, o que é pouco mais do que a metade do preço cobrado pelos quatro grandes clubes ingleses em jogos normais.</span></p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;" align="justify"><span style="font-family:Century Gothic, sans-serif;"> Apesar de não ter tido dificuldades em obter o ingresso pela Internet, fiquei sentado na fileira FF, ou seja, lá em cima, na última fila do estádio. Pelo menos era no Jock Stein Stand, o setor atrás do gol que congrega os torcedores mais fanáticos do Celtic. Aquela área é carinhosamente chamada de <i>Jungle</i> (“Selva”). Achei a atmosfera bem mais “quente” que da maioria dos jogos que assisti na Inglaterra. Foi uma das poucas vezes que vi grandes faixas penduradas por torcedores, uma delas com o rosto de Che Guevara. Havia também bandeiras verde e brancas e algumas bandeiras tricolores (verde, branco e laranja) da República da Irlanda. Uma delas era portada por um alegre torcedor que subiu as arquibancadas fazendo festa e não largou a bandeira durante todo o jogo, aproveitando o fato que estava na última fileira como eu, sem ninguém atrás para reclamar. Havia também torcedores com cachecóis do Celtic nas cores da Irlanda. </span> </p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;" align="justify"><span style="font-family:Century Gothic, sans-serif;"> O Celtic é um time amado por irlandeses e seus descendentes no mundo todo. Sua história de sucesso em um meio hostil e preconceituoso é um símbolo eficaz para a construção de uma identidade irlandesa positiva. Há “supporters clubs” do Celtic nos quatro cantos do planeta, tanto em lugares de imigração irlandesa como a Austrália e os Estados Unidos quanto na Turquia ou a Malásia. </span> </p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;" align="justify"><span style="font-family:Century Gothic, sans-serif;"> Antes do jogo, Raymond havia me falado do estilo Celtic de jogar, baseado em passes, jogadores pequenos mas habilidosos, jogo ofensivo e romântico. Tudo isso, como sempre, em oposição ao estilo Rangers, com jogadores altos e pesados, futebol força com chutão pra frente, rústico e violento. Claro que Raymond é suspeito. Por ser torcedor do Celtic e frequentador do Celtic Park desde criança, quando chegava duas horas antes com seu pai para pegar um bom lugar nos <i>terraces</i>, áreas onde os torcedores e torcedoras assistiam ao jogo em pé e expostos ao impiedoso clima escocês. Mas pelo menos no que diz respeito ao estilo Celtic ele pareceu dizer a verdade.</span></p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;" align="justify"><span style="font-family:Century Gothic, sans-serif;"> Pouco antes de começar a partida, um cena muito bonita, bastante aplaudida pelos torcedores do Celtic: toda a equipe forma um círculo de jogadores abraçados e curvados, simbolizando a união.</span></p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;" align="justify"><span style="font-family:Century Gothic, sans-serif;"> Desde o início do jogo, o time de camisas verde e brancas envolveu o Hearts com toques curtos e uma rápida movimentação. Em menos de 15 minutos já ganhavam de 1x0. Antes disso, logo nos momentos iniciais o Celtic já havia colocado uma bola na trave, numa magistral cobrança de falta feita pelo japonês Shunsuke Nakamura. “Naka”, como é chamado carinhosamente por sua torcida, é o craque do time. Magrinho e esguio, é um jogador de toques sutis e excepcional visão de jogo, além de uma canhota muito bem calibrada. A falta dele foi batida com um estilo que lembra seu professor, um certo Arthur Antunes Coimbra que foi técnico da seleção japonesa. </span> </p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;" align="justify"><span style="font-family:Century Gothic, sans-serif;"> Da mesma forma que Zico no seu tempo, “Naka” cobra todas as faltas e escanteios. E com admirável precisão: o segundo gol veio de um córner cobrado por ele na cabeça do baixinho Scott McDonald no início do segundo tempo. Com pouca altura para um centroavante, McDonald compensa esse defeito com uma dedicação total. Foi premiado pela torcida naquela tarde com gritos de “There is only one Scott McDonald” (“Só há um Scott McDonald”). Outro jogador que caiu no gosto da torcida naquele dia foi Aiden McGeady, homenageado da mesma forma pelo público de mais de 56 mil pessoas. McGeady é escocês e McDonald é filho de escoceses, nascido na Austrália. Aqui está outra diferença em relação à Premier League inglesa: na Escócia há mais jogadores escoceses na primeira divisão. Pela falta de dinheiro para contratar grandes estrelas estrangeiras às dúzias, o futebol escocês dá maior espaço aos jogadores locais. Parece estar fazendo bem à seleção escocesa, que teve grandes chances de classificar-se para a Eurocopa de 2008, perdendo no último jogo de forma dramática para a sempre perigosa Itália.</span></p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;" align="justify"><span style="font-family:Century Gothic, sans-serif;"> Quando o Celtic faz 3x0, faltando 15 minutos para terminar, a festa é total. Os poucos torcedores do Hearts presentes, devidamente separados da torcida do Celtic por um cordão de stewards e policiais, são mandados para casa com muito bom humor pela torcida da casa. Um destino ainda pior espera os jogadores: nem quero pensar na bronca que tomaram de Mr. Romanov... </span></p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;" align="justify"><span style="font-family:Century Gothic, sans-serif;"> </span></p>Marcos Alvitohttp://www.blogger.com/profile/04782210285593838126noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4110787133364190377.post-64280594813998293602008-01-31T09:42:00.000-02:002008-02-05T09:46:08.383-02:00Gerrard e o Urso Polar (Parte II - Final)<span lang="en-US"><span style="font-size:100%;"><span style="color: rgb(0, 0, 0);"><span style="font-family:Century Gothic,sans-serif;">A dinâmica do capitalismo global tende a ser concentradora e implacável. A indústria do entretenimento, capitaneada pelo futebol, explica o sucesso da liga inglesa mas também gera consequências indesejáveis. A constelação de astros vindos dos cinco continentes é ótima para a audiência da televisão, mas deixa pouquíssimo lugar para os jogadores ingleses, cada vez mais relegados às divisões inferiores e mesmo nessas ainda tendo que competir com inúmeros estrangeiros. Para se ter uma idéia, tomemos o time que liderava a 2a. divisão ao fim de janeiro de 2008, o West Bromwich Albion. Havia no seu elenco: um dinamarquês, um húngaro, dois holandeses, um esloveno, um eslovaco (não confundir), dois portugueses, um tcheco e um belga. Isto sem falar em um escocês e dois irlandeses, um do norte e um do sul (Eire). Não sobram muitas vagas para jogadores ingleses.</span><span style="font-family:Arial,sans-serif;"> </span></span></span></span> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;" align="justify"><span lang="en-US"><span style="font-size:100%;"><span style="color: rgb(0, 0, 0);"><span style="font-family:Century Gothic,sans-serif;"> Quando a Inglaterra sofreu o choque de não conseguir classificar-se para a Eurocopa 2008, perdendo em pleno estádio de Wembley para a Croácia, muitos atribuíram o fracasso ao excesso de jogadores estrangeiros, sobretudo na Premier League. Aqui as opiniões se dividem. Sir Trevor Berbick, por exemplo, diretor da Football Association (FA) responsável pelas divisões de base, foi categórico: </span><span style="text-decoration: none;"><span style="font-family:Century Gothic,sans-serif;"><i>"A seleção está ameaçada, os números mostram isso. É um problema sério. Daqui a dez anos teremos que ficar satisfeitos em simplesmente conseguirmos nos classificar para as competições internacionais</i>.” O Ministro dos Esportes, Gerry Sutcliffe, também se manifestou no mesmo sentido. Outro a pensar da mesma forma é o craque do Liverpool e da seleção inglesa, Steven Gerrard. <i>“Há um grande perigo de que paremos de produzir garotos de qualidade por causa da quantidade de estrangeiros nos clubes”</i>, afirmou Gerrard. Ele é até mesmo a favor de quotas máximas para jogadores estrangeiros e diz-se <i>“desesperado para que surja outro garoto [como ele] vindo das divisões de base do Liverpool”</i>. As autoridades do futebol internacional concordam com Gerrard. Sepp Blatter, presidente da FIFA, propôs o estabelecimento de uma quota de 5 jogadores estrangeiros por cada clube, em nome da “proteção à identidade nacional dos clubes de futebol”, salientando também a vantagem econômica, pois será mais barato para os clubes utilizarem jogadores nacionais. Talvez. O fato é que a imposição de uma quota para “estrangeiros” é algo contrário à Constituição da Comunidade Européia, que protege os direitos de livre movimentação e contratação dos trabalhadores, inclusive dos jogadores de futebol.</span></span></span></span></span></p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;" align="justify"><span style="text-decoration: none;"><span lang="en-US"><span style="font-size:100%;"><span style="font-family:Century Gothic,sans-serif;"><span style="color: rgb(0, 0, 0);"> Além do problema legal, aparentemente insuperável, há quem seja contra a quota por outros motivos. Arsène Wenger, o técnico francês do Arsenal, brandiu o argumento da excelência: <i>“Eu sempre achei que o esporte premia a qualidade e não se esconde por detrás de regras artificiais. Se você rebaixa o nível da turma, isso não torna melhores os maus estudantes, torna-os piores. Competir com os melhores jogadores do mundo é uma chance de subir seu nível. Se você organiza um torneio de golfe, as pessoas vão para ver Tiger Woods, na Escócia ou em qualquer outro lugar. Quando você vai a Wimbledon, quer ver Roger Federer. É isso que as pessoas querem hoje em dia. O mundo mudou. As pessoas querem o melhor do mundo e agora não vão querer assistir mais a um nível inferior [de espetáculo]”</i>. O ex-técnico da seleção inglesa, o sueco Sven Goran Eriksson, atualmente treinando o Manchester City, também é contra as quotas: <i>“Se você quer ter uma Europa aberta, na vida, nos negócios, com pessoas trabalhando em diferentes países, você não pode isolar o futebol. Temos que conviver com isso.</i>” Muitos também contestaram o argumento de que os estrangeiros estariam enfraquecendo a seleção inglesa ao lembrar que os maus resultados (nenhuma conquista após a Copa de 1966) são muito anteriores à avalanche de jogadores multinacionais iniciada sobretudo após 1995.</span></span></span></span></span></p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;" align="justify" lang="en-US"> <span style="color: rgb(0, 0, 0);"><span style="font-family:Century Gothic,sans-serif;"><span style="font-size:100%;"> De qualquer forma, um observador atento poderia lembrar que tanto Wenger quanto Eriksson são partes interessadas, pois ambos desfrutam de um amplo orçamento que lhes permite contratar jogadores de qualidade independentemente da nacionalidade. Aqui há uma contradição inevitável: é verdade que as leis européias protegem os trabalhadores e que obviamente os jogadores de futebol devem ser considerados como tal. Por outro lado, na prática são apenas os maiores clubes do mundo que se beneficiam disso, gerando uma competição desigual com os restantes. No fundo, trata-se de uma queda-de-braço entre o futebol como negócio e uma tradição secular cada dia mais ameaçada, entre o futebol como mercadoria da indústria do entretenimento (leia-se sobretudo televisão) e o futebol enquanto parte de uma identidade local e nacional. Em suma: entre o lucro e a paixão.</span></span></span></p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;" align="justify"><span lang="en-US"><span style="font-size:100%;"><span style="color: rgb(0, 0, 0);"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-family:Century Gothic,sans-serif;"> Também há quem diga que toda esta discussão sobre seleção e jogadores nacionais ou estrangeiros esteja totalmente ultrapassada. Simon Jenkins, em um artigo publicado no <i>The Guardian</i> (16-11-2007), argumenta que a realidade virtual já ultrapassou a geografia: <i>“Clubes de futebol tem seus próprios websites e canais de tv, seus torcedores são cada vez mais independentes da localidade. Eles juntaram-se à vizinhança global onde pode-se surfar na internet em busca de cultura sem fronteiras, emprego, lazer e até mesmo de amigos. (...) A distância tornou-se insignificante.</i>” Ao invés de estabelecer quotas para jogadores estrangeiros, ele propõe que a seleção inglesa simplesmente “compre” os melhores jogadores que toparem vestir a camisa dos três leões. Apesar de não concordarmos com ele, temos que admitir que de certa maneira isto já está acontecendo. Voltemos ao jogo que eliminou a Inglaterra da Eurocopa e deslanchou todo este debate. </span></span><span style="font-family:Century Gothic,sans-serif;">É irônico e bem característico do que ocorre hoje no futebol que um dos gols da Croácia tenha sido criado por um passe magistral do "croata"-carioca Eduardo Silva, ex-jogador do Bangu e atual camisa 9 do Arsenal.</span></span></span></span></p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;" align="justify" lang="en-US"> </p><p class="western" style="margin-bottom: 0cm;" align="justify" lang="en-US"> </p>Marcos Alvitohttp://www.blogger.com/profile/04782210285593838126noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4110787133364190377.post-25290928522003694562008-01-29T21:07:00.000-02:002008-02-01T18:43:24.256-02:00Més que un club?A publicação da segunda e última parte da crônica da semana passada ("Gerrard e o urso polar") vai atrasar uma semana. É que estive viajando e não pude concluí-la a tempo. Mas resolvi fazer um pequeno comentário acerca da visita que fiz ao <span style="font-style: italic;">Camp Nou</span>, estádio do Barcelona.<br /><br />Como todos sabem, o F.C. Barcelona, criado em 1899, encarna o orgulho catalão diante do poder central, contra o qual a Catalunha já lutou (e perdeu) três guerras. Na última delas, a sangrenta Guerra Civil Espanhola em 1936, aviões alemães bombardearam Barcelona em nome de Franco. Quando a bandeira da Catalunha foi proibida, a do Barcelona passou a ser usada em seu lugar. O que move a rivalidade feroz entre Barça e Real Madrid (apoiado pelo ditador) é este ódio secular, muito anterior à criação dos dois clubes e até do futebol como nós o conhecemos.<br /><br />Com 150.000 sócios, o Barcelona é um clube riquíssimo, apoiado incondicionalmente por sua torcida e com a maior média de público da Europa, acima dos 73 mil por jogo. O Camp Nou é absolutamente espetacular, com sua arquitetura arrojada, traço típico de uma cidade sempre lembrada pelas obras do genial António Gaudí. Inaugurado em 1957, o novo estádio foi um dos pilares da reconstrução da auto-estima catalã. Basta-se dizer que no dia da colocação da pedra inaugural apareceu uma multidão de mais de cem mil pessoas. Além do estádio de futebol, há um complexo esportivo com ginásio para basquete, hóquei e outras modalidades.<br /><br />Qualquer torcedor também sabe que o Barcelona é um dos poucos, senão o único clube dentre os maiores do planeta a não aceitar colocar um patrocínio para a sua camisa. É como se as cores do Barça fossem sagradas. Nas arquibancadas do estádio, está pintado o lema "Més que un club" ("Mais que um clube"), indicando claramente esta idéia. Pena que também esteja pintado, em igual tamanho, o logo da Nike. E o que me causou ainda mais espécie foi a visita à loja do clube. Por um lado, há todo o tipo de quinquilharia com o símbolo do clube como em qualquer <span style="font-style: italic;">megastore </span>de um clube da Premier League, de babadores de neném até uma geladeira nas cores tradicionais. Mas é absolutamente espantoso (vejam a foto abaixo) que haja camisas à venda da Juventus de Turim, do Internazionale de Milão, do Celtic (da Escócia) e até do Arsenal... Heitor, meu filho de 13 anos, matou a charada imediatamente: "É uma loja da Nike, pai, não é uma loja do Barcelona..." A sorte da Catalunha é que o Real Madrid é patrocinado pela Adidas...Marcos Alvitohttp://www.blogger.com/profile/04782210285593838126noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4110787133364190377.post-41505731560611093452008-01-22T07:53:00.000-02:002008-01-23T19:48:39.467-02:00Gerrard e o Urso Polar (Parte I)<span style="font-family:Century Gothic,sans-serif;">Da mesma forma que o aquecimento do planeta ameaça a existência de diversas espécies, dentre elas o Urso Polar, o aquecimento econômico da Premier League ameaça a existência do jogador inglês. No primeiro ano da então Premiership, em 1992, havia em média 8 jogadores ingleses entre os 11 titulares. Na primeira rodada da temporada passada (2006-7), este número havia caído para quatro. Mesmo que somemos todos os jogadores britânicos (isto é: ingleses + galeses + escoceses + irlandeses), os números continuam assustadores: em 1992 os jogadores britânicos eram 90% contra apenas 44% na temporada 2006-7. Em suma: os jogadores estrangeiros passaram de 10% a 56% em 14 anos. Mais da metade, quase 6 em cada 11 jogadores. Esta é a mais alta porcentagem de estrangeiros em uma primeira divisão nacional dentre as principais ligas européias. </span><p class="western" style="MARGIN-BOTTOM: 0cm" align="justify"></p><p class="western" style="MARGIN-BOTTOM: 0cm" align="justify"><span style="font-family:Century Gothic,sans-serif;">Na temporada atual o número de estrangeiros aumentou de 123 para 196, vindos de 66 países diferentes. O Bolton Wanderers, por exemplo, é uma verdadeira “Legião Estrangeira”, com 24 países diferentes representados na equipe. O Arsenal, que tem liderado a maior parte da atual temporada, normalmente entra em campo com 11 estrangeiros. O Arsenal, aliás, foi o primeiro clube na história do futebol inglês a escalar 16 jogadores (11 em campo + 5 no banco de reservas) estrangeiros em 2005. Mais de 100 jogadores que participaram da Copa de 2006 jogam hoje em campos ingleses.</span></p><p class="western" style="MARGIN-BOTTOM: 0cm" align="justify"><span style="font-family:Century Gothic,sans-serif;">Por um lado, esta é uma história de sucesso retumbante. A média de público passou de 21 mil em 1992 para 35 mil em 2007-8, o que equivale a uma taxa de ocupação dos estádios superior a 90%. A Premier League é hoje uma febre planetária, assistida pela telinha em mais de 200 países, com um público acumulado de mais de 3 bilhões de telespectadores. É aquilo que os economistas chamam de um “círculo virtuoso”: os direitos de transmissão geram recursos que são investidos na contratação dos melhores jogadores do planeta, atraindo mais audiência e por sua vez levando ao aumento no valor dos direitos televisivos. A Premier League vendeu os direitos de transmissão das próximas 3 temporadas, até 2009-10, pelo equivalente a 11 bilhões de reais. Só para se ter uma idéia, a primeira divisão espanhola, a outrora hegemônica La Liga, onde jogam Ronaldinho, Messi e Robinho, dentre outros, recebe um terço disso pelos direitos de transmissão do seu campeonato. </span></p><p class="western" style="MARGIN-BOTTOM: 0cm" align="justify"><span style="font-family:Century Gothic,sans-serif;">Essa dinheirama toda é utilizada em grande parte para a contratação de jogadores e pagamento de salários. Na atual temporada os 20 clubes da primeira divisão inglesa já gastaram mais de 2 trilhões de reais em tranferências. Mesmo as mais ricas ligas européias ficam à mercê do maior poderio econômico da Premier League. Estrelas de primeira grandeza em seus países, como o alemão Ballack ou o espanhol Fernando Torres, transferem-se por somas milionárias que clubes como Bayern de Munique ou Atlético de Madri hoje não têm condições de igualar. Há uma verdadeira pilhagem dos jovens talentos e mesmo um clube do porte do Real Madri vê jogadores das suas divisões de base sugados pelo furacão Premier League. Foi assim com o argentino Gerardo Bruno, de 15 anos, contratado pelo Liverpool em novembro de 2007, depois de passar 3 anos nas divisões de base do Real. Como resumiu muito bem o técnico das divisões de base do clube espanhol: “Isso acontece todo o tempo na Inglaterra. Quando eles vêem alguém de quem eles gostam, levam-no embora.” Cristiano Ronaldo, por exemplo, foi contratado pelo Manchester United depois de uma boa atuação contra os Red Devils quando ele ainda vestia a camisa do Sporting de Lisboa.</span></p><p class="western" style="MARGIN-BOTTOM: 0cm" align="justify"><span style="font-family:Century Gothic,sans-serif;">Na verdade, a Premier League pode ser considerada um empreendimento típico do capitalismo global. Nove dos vinte clubes têm proprietários estrangeiros, quase sempre bilionários sem maiores ligações com o futebol enquanto esporte e sim como <i>big business</i>. Vêem-se crianças com camisas do Manchester United nos quatro cantos da Terra e o clube alega ter 333 milhões de fãs em 21 países diferentes. Os principais clubes fazem pré-temporadas na Ásia, de olho em um mercado que cresce a cada dia. Ou seja, é uma liga jogada na Inglaterra, mas por jogadores de todo o mundo para uma platéia igualmente planetária.<br /></span></p>Marcos Alvitohttp://www.blogger.com/profile/04782210285593838126noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4110787133364190377.post-85067111803475886612008-01-14T11:45:00.000-02:002008-01-21T08:53:56.338-02:00Me dá um dinheiro aí<span style="FONT-WEIGHT: bold"><br /></span><p class="western" style="MARGIN-BOTTOM: 0cm" align="justify"><span style="font-family:Century Gothic, sans-serif;"><span style="font-size:100%;"></span></span></p><p class="western" style="MARGIN-BOTTOM: 0cm" align="justify"><span style="font-family:Century Gothic, sans-serif;"><span style="font-size:100%;">O fato mais impressionante do Campeonato Brasileiro de 2007: como a torcida empurrou o Flamengo para uma honrosa terceira colocação, com direito a Libertadores em 2008. Isso para uma equipe que chegou a rondar e até a frequentar a famosa ZR, zona do rebaixamento. Dizia o genial tricolor Nelson Rodrigues que no Flamengo "time e torcida completam-se numa integração definitiva". Diante de tal potência, vira e mexe alguém sugere que o Flamengo poderia pagar toda a sua dívida e ainda ficar com algum para gastar se cada um dos 35 milhões de rubro-negros desse uma graninha.</span></span></p><p class="western" style="MARGIN-BOTTOM: 0cm" align="justify"><span style="font-family:Century Gothic, sans-serif;"><span style="font-size:100%;">Torcedores doando dinheiro para apoiar seu clube? A história do futebol inglês mostra que não é uma boa idéia. Até a primeira metade do século XX era comum os dirigentes recorrerem a subscrições feitas junto aos torcedores. Os recursos eram usados na construção ou reforma do estádio, para comprar um determinado jogador ou tão simplesmente para evitar a falência do clube. Assim que o dinheiro mudava de mãos os torcedores eram ignorados e nem sempre o dinheiro era aplicado corretamente. Apesar disso, criaram-se muitos “Supporters Clubs”, alguns deles ativos desde 1901. Havia uma entidade nacional que os congregava desde 1927 e em 1953 estes grupos de apoio aos clubes reuniam meio milhão de torcedores. </span></span></p><p class="western" style="MARGIN-BOTTOM: 0cm" align="justify"><span style="font-family:Century Gothic, sans-serif;"><span style="font-size:100%;">A crise da década de 1980, gerada sobretudo pelo hooliganismo, obrigou os torcedores a mudarem de estratégia. O plano do governo conservador de criar um cartão de identificação dos torcedores (que está sendo implementado no Brasil) levou a uma reação indignada que desembocou na criação da <i>Football Supporters Association</i> (Associação dos Torcedores de Futebol). Esta entidade, de caráter nacional, mobilizou os torcedores em torno dos seus direitos e um abaixo-assinado com 250.000 pessoas conseguiu barrar a proposta de Margaret Thatcher. </span></span></p><p class="western" style="MARGIN-BOTTOM: 0cm" align="justify"><span style="font-family:Century Gothic, sans-serif;"><span style="font-size:100%;">A década de 90 assistiu à criação de associações independentes de torcedores (<i>Independent Supporters Associations</i>), bem mais críticas e politizadas do que os grupos de apoio típicos que existiam anteriormente. Algumas vitórias conseguidas por associações deste tipo merecem ser mencionadas. Em 1993 a associação de torcedores do West Ham impediu que o clube implementasse um esquema que vinculava a compra de ingressos à posse de um cartão custando 500 libras (R$ 2.000). Os torcedores do Charlton, congregados em torno do <i>fanzine</i> <b>Voice of the Valley</b>, foram bem sucedidos em uma campanha para que o clube retornasse a seu estádio de origem. Leeds e Newcastle viram seus torcedores desencadearem campanhas contra o racismo que acabaram levando ao desenvolvimento de uma campanha nacional.</span></span></p><p class="western" style="MARGIN-BOTTOM: 0cm" align="justify"><span style="font-family:Century Gothic, sans-serif;"><span style="font-size:100%;">A criação da FA Premier League, em 1992, representou um duro golpe para os torcedores e suas organizações. A venda dos direitos televisivos para um mercado global tornou os clubes menos dependentes dos seus fãs locais, diminuindo a sua capacidade de pressão. Mas os torcedores continuaram se fazendo ouvir. Muitos criaram o que se chama de um <i>Football Trust,</i> ou seja, uma organização para arrecadar fundos que são aplicados no clube, mas de acordo com o que decidem os torcedores. O dinheiro não é entregue na mão dos dirigentes, os torcedores exigem contrapartidas. É claro que este esquema é mais presente e efetivos nos pequenos clubes, onde as quantias arrecadas pelos torcedores ainda têm um impacto significativo. O governo trabalhista de Tony Blair criou um fundo governamental para apoiar estas iniciativas de torcedores, visando democratizar o futebol. Esta verba foi fundamental, por exemplo, para a criação do FC United of Manchester (<a href="http://www.fc-united.co.uk/">http://www.fc-united.co.uk/</a> ), já abordado na crônica da semana passada (ver “Rebeldes F.C.”).</span></span></p><p class="western" style="MARGIN-BOTTOM: 0cm" align="justify"><span style="font-family:Century Gothic, sans-serif;"><span style="font-size:100%;">Na verdade, o FC United inspirou-se no AFC Wimbledon. Este foi criado em 2002 por torcedores desgostosos com a transferência do seu clube para uma outra cidade, a 100 quilômetros de distância. É algo muito comum ... no futebol americano, onde os clubes buscam um melhor “mercado consumidor”. Seja como for, o nome do antigo clube acabou sendo modificado pelo novo proprietário para MK Dons enquanto os incorformados torcedores passaram a seguir o AFC Wimbledon. O MK Dons está atualmente na 4a. Divisão (League Two), enquanto que o clube criado pelos torcedores disputa a 7a. Divisão. </span></span></p><p class="western" style="MARGIN-BOTTOM: 0cm" align="justify"><span style="font-family:Century Gothic, sans-serif;"><span style="font-size:100%;">Recentemente, foi inventada uma nova forma de participação para os torcedores: o clube virtual. O pioneiro foi o MyFootballClub (<a href="http://www.myfootballclub.co.uk/">http://www.myfootballclub.co.uk/</a> ). Pelo equivalente a 140 reais, você torna-se dono de um clube de futebol, com direito a votar na escalação do time, dar palpite na contratação de jogadores etc. Em poucas semanas, 20 mil pessoas aderiram ao esquema gerando 700.000 libras (dois milhões e oitocentos mil reais). Na segunda semana de novembro, o site anunciou que havia concluído a negociação com o Ebsfleet F.C., um clube que atualmente disputa a Blue Square Premier (5a. Divisão). Este clube foi escolhido entre sete outros que procuraram o site dispostos a aderir ao esquema. </span></span></p><p class="western" style="MARGIN-BOTTOM: 0cm" align="justify"><span style="font-family:Century Gothic, sans-serif;"><span style="font-size:100%;">De imediato, houve uma chuva de críticas. A principal dela é que torcedores virtuais, interessados em “brincar de proprietário”, agora terão em mãos o destino de um clube real, em detrimento dos torcedores de verdade. É aquilo que o Martin Samuel, colunista do <i>The Times</i>, chamou em um artigo de “Poder para as pessoas erradas”. Muitos também vaticinam um desastre iminente pelo fato dos proprietários virtuais escalarem o time e opinarem nas contratações sem maior conhecimento de causa. </span></span></p><p class="western" style="MARGIN-BOTTOM: 0cm" align="justify"><span style="font-family:Century Gothic, sans-serif;"><span style="font-size:100%;">Seja lá como for, todas estas inciativas demonstram que há muitas e melhores possibilidades para os torcedores além do modelo "Me dá um dinheiro aí"...</span></span></p>Marcos Alvitohttp://www.blogger.com/profile/04782210285593838126noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4110787133364190377.post-13545401362967032232008-01-08T11:05:00.000-02:002008-01-08T11:26:39.937-02:00REBELDES F.C.Oi, pessoal, para quem gosta de pensar (e se divertir), vale a pena dar uma olhada no primeiro número da Revista Contracultura: <a href="http://www.uff.br/revistacontracultura">www.uff.br/revistacontracultura</a> . Foi lá que publicamos este artigo.<br /><br />um abraço a <a href="mailto:tod@s">tod@s</a>,<br /><br />Marcos Alvito<br /><br /><strong>Rebeldes F.C.<br /></strong><br />Qual torcedor não sonha em vestir as cores do clube e entrar em campo? Que tal marcar aquele gol “feito” que o infeliz centroavante acaba de perder? Ou fazer um lançamento perfeito deixando alguém na “cara do gol”? Quem sabe livrar seu time da derrota, salvando uma bola em cima da linha? Rob Nugent não precisa mais sonhar. Este rapaz de 24 anos já realizou o maior sonho da sua vida: jogar futebol pelo seu clube. Até 2005, seu clube era o todo-poderoso Manchester United, com certeza o clube mais conhecido da Terra, com milhões de torcedores globais espalhados por todos os continentes. No último balanço realizado pela empresa de consultoria Deloitte & Touche, o Manchester United aparece novamente o clube mais rico do mundo, valendo mais de um bilhão de libras (quatro bilhões de reais).<br />Como diz aquele samba, dinheiro não traz felicidade. O clube foi criado numa época em que ainda não se usavam redes (nenhum locutor podia se esgoelar gritando “tá lá na rede”) e em que muitas traves ainda tinham fitas servindo de travessão. O futebol ainda era amador, embora fossem comuns pagamentos “por debaixo do pano” até 1885 quando o profissionalismo foi legalizado na Inglaterra. Naquele ano de 1878, em que os juízes de futebol passaram a usar apito (antes devia ser no grito), os ferroviários de Manchester fundaram o Newton Heath Football Club, que utilizava um belo uniforme quadriculado verde e amarelo. O início não foi dos mais fáceis e em 1902 o Newton Heath mudou seu nome para Manchester United por exigência do mecenas que salvou o clube da falência.<br />Na década de 30, o clube esteve novamente à beira da falência. Em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial o estádio de Old Trafford sofreu um pesado bombardeio alemão e teve que ser reconstruído. Na década de 50, o clube foi marcado pela tragédia de Munique em 1958, quando o avião transportando a jovem e brilhante equipe dirigida por Matt Busby espatifou-se na pista depois da terceira tentativa de decolagem, roubando a vida de 21 pessoas, inclusive 8 jogadores do Manchester United.<br />Dois sobreviventes daquele dia, Matt Busby e o genial meio-campista Bobby Charlton, celebraram dez anos depois a primeira conquista de uma copa européia (hoje chamada Champions League), derrotando o Benfica de Eusébio, à época considerado rival de Pelé. Mesmo assim, o Manchester United estava longe de ser um clube super-poderoso até mesmo na Inglaterra. Na década de 70, era comum os torcedores adversários gritarem “You are never going to win the League” (“Vocês nunca serão campeões”) e em 1974 o clube foi rebaixado para a segunda divisão.<br />Na década de 90, a sorte mudou e o trabalho de Sir Alex Ferguson, técnico do Man United desde 1986, começou a dar frutos. O clube é o maior vencedor do futebol inglês após 1992, ano da criação da Premier League, tendo conquistado o título nove vezes em quinze temporadas.<br />Nesse mesmo período, o clube investiu na sua transformação em uma multinacional do entretenimento esportivo, com uma agressiva campanha de marketing direcionada sobretudo para o mercado asiático, onde a camisa vermelha do United é um objeto de consumo altamente desejado. O potencial mercadológico do clube não passou despercebido para os peso-pesados do capitalismo. Primeiro foi o polêmico Rupert Murdoch, dono da maior cadeia de jornais, revistas e televisão do mundo. Uma de suas empresas, a tv a cabo BskyB, tentou comprar o Man U (como costuma ser chamado na Inglaterra) em 1999. A ativa resistência dos torcedores, debaixo da bandeira “Not For Sale” (“Não está à venda”) impediu que o negócio fosse realizado. Depois de muita luta, as autoridade inglesas consideraram ilegal que a empresa televisiva que detinha os direitos de transmissão fosse dona de um dos clubes.<br />Depois de derrotarem Murdoch, os fãs tiveram que enfrentar outro desafio: em 2003 os ricos criadores de cavalos John Magnier e J.P. McManus começaram a comprar ações do clube com intenção de obter o controle total do Manchester United. Desta vez, todavia, não havia como apelar para o governo. Os torcedores partiram então para táticas de “guerrilha”: impediram a realização de uma corrida de cavalos, ergueram piquetes em frente às companhias ligadas a Magnier e McManus, fizeram ataques virtuais aos servidores da empresa, bombardearam as famílias e o staff com e-mails agressivos e, por fim, pintaram de vermelho as residências dos futuros donos do clube. Os milionários irlandeses sucumbem à pressão dos torcedores e desistem do seu intuito de tomar o clube em 2004. Outra batalha vencida, mas a guerra continuava. Entra em campo outro bilionário, o norte-americano Malcom Glazer, proprietário do Tampa Bay Bucaneers, uma equipe de futebol americano. Glazer “cresce o olho” para um clube com pouca dívida e enorme penetração no mercado global do entretenimento. Em 2005, apesar de novos e pesados protestos dos torcedores, o norte-americano compra 90% das ações, o que pela lei obriga todos os outros acionistas a lhe venderem as ações restantes.<br />Além da compra do clube por alguém sem nenhuma ligação anterior com o futebol inglês ou com o Manchester United, há também a forma como o negócio foi realizado. Por uma mágica que só o capitalismo é capaz de operar, Glazer não comprou o clube tirando dinheiro do próprio (e bem recheado) bolso.<br />Fez um empréstimo de 500 milhões de libras (2 bilhões de reais) em nome do clube. Ou seja, o Manchester United passou a dever meio bilhão de libras para que Glazer o comprasse. É claro que isso implicou em aumento do preço dos ingressos, ou seja: os torcedores é que iriam pagar a conta.<br />Diante dessa situação imoral, um grupo de torcedores muito ativos decide boicotar o clube, prometendo não ir ao estádio. Tony Howard estava entre eles. É com muita revolta e tristeza que ele me conta que arremessou seu season-ticket (cartão permanente) pela janela. Ainda hoje, dois anos depois, persiste em Tony sensação de que seu clube e seu lugar no estádio há mais de uma década foram roubados. Mas torcedor unido jamais será vencido. E em junho de 2005, o mesmo grupo que lutara contra a venda do Manchester decide criar um novo clube para competir no campeonato daquele ano. Em apenas 4 semanas eles criaram FC United of Manchester. Apelido: “The Rebels” (“Os Rebeldes”).<br />As cores vermelha, branca e preta são as mesmas do clube comprado pelo milionário norte-americano, mas o FC United é um clube completamente diferente. É dirigido democraticamente por um conselho eleito por seus membros. São cerca de 2.000 torcedores, cada um com um voto. O FCUM é uma entidade não-lucrativa e sua constituição obriga o clube a tentar manter preços acessíveis e a estabelecer uma ligação com a comunidade local. Dois anos depois, o clube criado pela Internet é uma realidade. Começou na 10a. Divisão, mas foi campeão duas temporadas seguidas e hoje joga na Unibond League First Division North, ou seja: o equivalente à 8a. Divisão. O time tem uma excelente média de público, cerca de 2.000 torcedores por jogo. E no momento em que escrevo (novembro de 2007) encontra-se na terceira colocação, candidato a subir de divisão no ano que vem.<br />É neste “clube dos torcedores” que joga o ruivo Rob Nugent. Aquela fria noite de Manchester começou mal para ele. Com menos de 5 minutos o FC já estava perdendo para o Rossendale por conta de uma bola mal atrasada para o goleiro por Rob. Ao fim tempo, com o FC perdendo de 1x0, eu e meu amigo Adam Brown mudamos de lugar na arquibancada. Adam é um sociólogo-torcedor que ajudou a fundar o clube e ainda hoje é um dos seus dirigentes. Superstição à parte, no segundo tempo o time melhorou muito e virou a partida marcando cinco lindos gols. Depois do jogo, entrevistei Rob Nugent. Ele ainda estava aflito com seu erro no primeiro tempo, mas muito feliz com a vitória. Afinal, Rob Nugent não é apenas um zagueiro do FC United. Ele estava entre os torcedores que protestaram contra a venda do Man U para Glazer. Foi quando estava na fila de fundadores do FC que um conhecido comentou que Rob já havia jogado futebol profissional no Sheffield United, um dos clubes mais antigos e tradicionais da Inglaterra. Escalado para um teste, Rob passou e hoje veste com orgulho a camisa número 6 do FC. O sonho de Rob virou realidade.<br /><br /><br />Prorrogação: hoje o FC enfrenta um novo desafio. Foi lançada uma campanha na Internet para arrecadar fundos para a construção de um estádio próprio, inicialmente com 750 assentos. Se o leitor ou leitora quiser ajudar os Rebeldes ou conhecer mais um pouquinho sobre o clube, basta clicar em <a href="http://www.fc-utd.co.uk/">http://www.fc-utd.co.uk/</a> .Marcos Alvitohttp://www.blogger.com/profile/04782210285593838126noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4110787133364190377.post-50172253412126763992007-12-31T13:40:00.000-02:002008-01-01T00:58:51.442-02:00Máquina do Tempo Portátil - Parte II<a href="http://3.bp.blogspot.com/_IwK76splDDQ/R3kVPa9e2SI/AAAAAAAAAMs/bJqK4DY-bIM/s1600-h/Sunday+Chronicle+1956.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5150171003554289954" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://3.bp.blogspot.com/_IwK76splDDQ/R3kVPa9e2SI/AAAAAAAAAMs/bJqK4DY-bIM/s320/Sunday+Chronicle+1956.jpg" border="0" /></a><br /><br /><br /><div><strong>Máquina do tempo portátil – Parte II<br /></strong><br />Ainda mais impressionante do que o número de clubes de futebol em 1950, é o público das partidas. O período pós-guerra assistiu a uma verdadeira febre de futebol. A média de público para os jogos da Primeira Divisão em 1949/50 foi de 40.700, bem superior ao da <em>Premier League</em> hoje em dia. O público total do futebol alcançou os 41 milhões na temporada 1948/49, um recorde que jamais seria igualado. Só para dar uma idéia, nos últimos anos a média de público tem sido de 26 milhões.<br />Além de tentarem recuperar o tempo perdido, as pessoas entregaram-se de corpo e alma ao principal divertimento em uma época de orçamentos apertados: o futebol. A televisão estava ainda nos seus primórdios (já falaremos sobre ela) e os outros divertimentos possíveis eram o cinema, os bailes e a igreja. O futebol, lazer masculino e operário por excelência, reforçava um sentimento local e comunitário extremamente importante em um momento em que as feridas da segunda guerra ainda estavam abertas. Sentir-se novamente parte de um grupo, estar entre amigos e conhecidos, era algo buscado por todos. Um anúncio de cigarro na página 13 do nosso almanaque encarna muito bem esse espírito. O título do anúncio é “Promovido a amigo...” e a ilustração põe um homem a sorrir na arquibancada, segurando um enorme maço de “Capstan” aberto em direção à mão do torcedor ao lado que claramente vai pegar um cigarrinho emprestado. Ao contrário do que talvez seja um senso comum entre os fumantes, sempre reclamando dos “filões”, o texto do anúncio deixa claro que o cigarro tinha exatamente a função de aproximar, de reforçar ou criar amizades:<br />“Não importa se o seu time ganha, perde ou empata, Capstan sempre marca. Estes ótimos cigarros são <em>feitos para fazer amigos</em> [em itálico no original].”<br />O campo de futebol aparece ao fundo, a ênfase toda está na relação entre os dois fumantes-torcedores-amigos. </div><div></div><div><br />Em busca de amizade, lazer ou mesmo de um cigarrinho emprestado, o certo é que os campos lotavam de norte a sul e isso incluía também as divisões inferiores. Times da 3ª. Divisão por vezes conseguiam públicos acima dos 25 mil espectadores. No norte da Inglaterra, os industriais tentavam conter o enorme número de faltas aos sábados com bônus ou ameaças de demissão. Às vezes um terço dos operários faltava em dias de jogos importantes. Esse <em>boom</em> de público fez com que os clubes reunidos na assembléia anual da Football League decidissem incorporar mais 4 clubes à 3ª. Divisão, à época sub-dividida em Norte e Sul. Assim nos informa o livrinho à página 6. O curioso é que com este acréscimo, o número total de clubes chega a 92, exatamente o mesmo número de clubes existentes nas 4 primeiras divisões da Inglaterra em 2007/8, cinqüenta e sete anos depois. Isto é típico de um futebol extremamente bem organizado e estável, o que sem dúvida é um dos motivos para o sucesso do futebol inglês.<br />Uma outra decisão tomada pela assembléia dos clubes hoje em dia nos parece bizarra. Já havia televisão, mas a <em>Football League</em> proibia o televisionamento das partidas. E olha que em 1950 apenas 2% dos lares ingleses dispunham de televisão.</div><br /><div>Quanto ao rádio, naquele ano votou-se uma resolução proposta pelo Sunderland que simplesmente negava à BBC a transmissão radiofônica de qualquer partida enquanto outras estivessem ocorrendo. Como à época todos os jogos ocorriam aos sábados à tarde isso impedia a BBC de transmitir ao vivo jogos de futebol. Sugeria-se que a BBC tocasse uma gravação da transmissão da partida à noite. Os clubes entendiam que tanto a televisão quanto o rádio diminuiriam o público e consequentemente a renda das partidas. </div><br /><div>A diferença é marcante em relação aos dias de hoje, em que os recursos provenientes da televisão praticamente sustentam o futebol<br />Inglês, sobretudo na <em>Premier League</em>. É interessante que a assembléia geral dos clubes enfatizou que aquela proibição não era definitiva e que as negociações com a tv estavam em andamento. Três anos depois os clubes finalmente consentiriam em permitir que a BBC transmitisse a final do torneio mais importante do futebol inglês: a FA Cup ou Copa da Inglaterra como é conhecida no Brasil.<br />Os que não podiam ir aos jogos não se contentavam em ouvir transmissões radiofônicas gravadas horas antes. O interesse pelo futebol servia de alavanca para tiragens milionárias dos jornais, cujas fotografias tornavam os craques conhecidos por todo o país. Já havia jornais especializados em esportes, como o <em>Sporting Chronicle and Athletic News</em>, cujo anúncio à p. 293 afirmava: “Você está perdendo algo (foto de um goleiro deixando a bola passar) se você não lê o jornal que dedica mais espaço ao futebol todos os dias”.<br />Outra atividade que florescia graças ao futebol era a “indústria de apostas”. O <em>Sunday Chronicle 1950/51</em> atesta a prosperidade dos <em>pools</em>, bolões de apostas cujos anúncios aparecem às dezenas no almanaque daquele ano. A promessa era a de sempre: “Seus centavos podem trazer milhares de libras”, prometia a <em>Cope’s Pools</em> de Londres. Este amor às apostas é outra característica que persiste hoje em dia, onde há casas de apostas como LadBrokes e William Hill a cada esquina (ainda iremos escrever uma crônica sobre isso).<br />Há muitas coisas no livrinho que hoje parecem ultrapassadas: o anúncio de uma chuteira que tinha cano alto, mais parecida com uma bota, a goma de cabelo (Brylcreem) que mantém seu cabelo “em forma” – com a indefectível foto de um jogador agachado, segurando a bola e com o cabelinho brilhando. A bola, aliás, era costurada à mão como nos informa um outro anúncio. E é claro que a redonda, nesse tempo, ainda era feita de couro.</div>Marcos Alvitohttp://www.blogger.com/profile/04782210285593838126noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4110787133364190377.post-91178919241415645032007-12-25T10:47:00.000-02:002007-12-25T10:53:17.226-02:00Máquina do Tempo Portátil - Parte I<strong><span style="font-size:130%;">Máquina do Tempo Portátil – Parte I<br /></span></strong><br /> Hay-on-Way, no País de Gales, tem apenas 1900 habitantes e 30 livrarias, o que dá uma média invejável de uma livraria para cada 66 habitantes. Até a década de 1970 era apenas uma pequena cidade-mercado situada em uma região tipicamente rural. Tudo mudou em 1977, quando Richard Booth, o dono de uma loja de livros usados auto-proclamou-se “Rei de Hay-on-Wye” em uma bela jogada de marketing. A cidade virou uma meca para os amantes de livros e passou a sediar um dos festivais literários mais importantes do mundo. Um domingo chuvoso em Hay-on-Wye era tudo que eu pedira aos deuses naquele início de inverno. Perambulando pelas ruelas em meio às típicas construções em pedra, logo fui me refugiar em um dos melhores sebos da cidade.<br /> Ali, por motivos óbvios, depois de vagabundear pelas estantes repletas de romances e livros de viagem, fui até o setor de esportes, subseção futebol, é claro. Foi ai que caiu em minhas mãos uma máquina do tempo portátil. Pelo aspecto ninguém poderia julgar assim: um pequeno objeto tridimensional retangular feito de papel jornal impresso em letras bem pequenas. Um livro. Melhor dizendo, uma espécie de almanaque: o <em>Sunday Chronicle Football</em> <em>Annual</em>, edição 1950-51. Logo na capa, bem machucada depois de 56 anos, a primeira surpresa. Alem do título sobreposto a uma foto claramente retocada e pintada de um goleiro saltando para agarrar uma bola, a inscrição misteriosa “Covers all Codes” (cobre todos os códigos). Uma breve consulta ao índice resolve o enigma: o livrinho contém resultados e informações acerca dos três códigos do futebol: <em>association</em> (o nosso futebol), <em>rugby union</em> e <em>rugby league</em>. Ou seja, quase cem anos depois da famosa reunião que selou a separação entre o <em>association football</em> e o <em>rugby football</em> em 1863, este anuário ainda considerava valido colocá-los sob a mesma rubrica de <em>football</em>.<br /> A página contendo o índice também assinala que o livro estava na sua 64a. edição anual, ou seja: este livro comecou a ser publicado em 1886, um ano após o advento do futebol profissional na Inglaterra. E, o que é ainda mais notável, dois anos <em>antes</em> do primeiro campeonato da Liga Inglesa, que só começou a ser disputado em 1888. Mesmo assim já havia mercado para uma obra deste tipo, o que mostra a profundidade do interesse do público inglês.<br /> Para começar, há os placares de cada um dos jogos disputados na temporada de 1950-51 em cada uma das três primeiras divisões do futebol inglês, da Liga Irlandesa e da Liga Galesa, bem como das três principais divisões do futebol escocês e da FA Cup. Esta ultima competição é a mais antiga do mundo, tendo sido iniciada em 1871. Com nossa máquina do tempo portátil aprendemos que em 1950 ainda era aberta a todos os clubes ingleses, inclusive os amadores. O que significou 617 clubes na temporada 1950-51. Mas também ficamos sabendo que já circulavam propostas de restringir a participação na lucrativa FA Cup aos times profissionais. Estes eram 416, de um total impressionante de 23.160 clubes. O que não incluía, informa nosso precioso livrinho, universidades, escolas e clubes de serviço. Ou seja, em 1950 havia mais de 23 mil clubes <em>exclusivamente</em> de futebol na Inglaterra.<br />(<strong>continua na semana que vem</strong>)Marcos Alvitohttp://www.blogger.com/profile/04782210285593838126noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4110787133364190377.post-51647037078044734922007-12-18T11:24:00.000-02:002007-12-18T11:27:47.002-02:00Rugby, o primo aristocrático do futebol<strong>Rugby, o primo aristocrático do futebol<br /></strong> <br /> Rugby ? Pouca gente sabe, mas o rugby e o futebol são podem ser considerados primos. Ambos originaram-se de jogos existentes na Inglaterra medieval e que opunham aldeia a aldeia em confrontos violentos que às vezes duravam dias. Os reis proibiram estes jogos inúmeras vezes, devido ao tumulto que causavam, mas a rapaziada continuava dando seus chutes em bexigas de boi infladas de ar – o que deu o nome ao jogo (football, bola chutada com o pé). Em meados do século XIX estes jogos tradicionais foram adotados e modificados pelos estudantes das escolas públicas de 2º. Grau da Inglaterra. Em uma delas, a Rugby School, começou-se a adotar uma regra que permitia agarrar a bola e correr com ela, além de chutá-la. Foi ali que se criou a bola oval e o gol em forma de “H”. Esta modalidade do jogo de football começou a ser chamada de Rugby football, ou seja: futebol jogado à maneira de rugby. Outras escolas, porém, quiseram adotar outra regra, em que era proibido (exceto ao goleiro) agarrar a bola. Foi somente aí que rugby football e football association vieram a separar-se com a criação de duas entidades diferentes e de regras estabelecidas por escrito, do futebol em 1863 e do rugby em 1871.<br /> O jogo de rugby logo tornou-se extremamente popular, não somente nas escolas e universidades, mas também junto aos operários da região mais industrializada da Inglaterra. Quando os trabalhadores conquistaram a redução do horário de trabalho, deixando de trabalhar aos sábados à tarde, este se tornou o horário clássico do rugby e também do futebol (é assim até hoje). Da Inglaterra, o jogo logo espalhou-se para todo o Reino Unido e logo em seguida para as colônias do imenso império em que o sol nunca se punha. Depois alcançou o mundo todo, inclusive a América Latina. Apesar disso, logo o futebol suplantou o rugby e veio a tornar-se o esporte mais popular do mundo, enquanto o rugby começou a ser visto como mais aristocrático, coisa de universitários e de classe média, embora em certas regiões da Inglaterra, em Gales, na Austrália e na Nova Zelândia ele seja claramente o esporte mais popular.<br />Na vizinha Argentina, o campeonato nacional de rugby é disputado há mais de 100 anos. Até Che Guevara jogava (basta ver o início do fabuloso Diários de Motocicleta). Para quem vê pela primeira vez, parece uma loucura: um bolo de jogadores amontoados em cima de uma bola ... ainda por cima oval !!! E passa-se a bola com a mão para trás. Mas o rugby é o maior barato: é primo do futebol mas exige muito mais espírito coletivo. No rugby não há lugar para o “mascarado”, para o fominha, não passar a bola é prejuízo e às vezes suicídio... Todos atacam, todos têm que defender, são 15 para cada lado e o jogo não pára um segundo. Não confundam com o futebol americano, que derivou do rugby e é bem mais recente. O rugby é jogado em mais de 150 países e a Copa do Mundo de Rugby, jogada de quatro em quatro anos só perde para a Copa do Mundo de Futebol em termos de telespectadores. Isso mesmo, ganha das Olimpíadas. Ao contrário da maioria dos esportes, o rugby é democrático em relação à compleição física: há lugar em um time para jogadores altos e magros, gordinhos (e gordões), baixos, leves e velozes ou fortes e pesados. E mulheres também jogam rugby, cada dia mais.<br />O objetivo do jogo é simples: alcançar a linha de fundo e colocar a bola oval no chão, não valendo jogá-la, é preciso colocá-la com a mão. Este lance vale 5 pontos e é chamado de try. Após o try o time ainda tem a chance de marcar mais dois pontos, caso consiga chutar a bola acima da barra horizontal do gol em forma de H. Outra forma de marcar é converter uma falta chutando por cima da trave do H ou fazê-lo durante o jogo ao chutar a bola depois de fazê-la quicar no chão. Em ambos os lances conquistam-se mais três pontos.<br /> Além de ser um esporte emocionante, o rugby tem aspectos éticos louváveis: até 1995 era um esporte amador (e ainda é predominantemente amador com exceção de alguns países europeus) e o respeito pelo adversário é muito grande. Assim que o jogo termina, um dos times forma um corredor por onde passarão os jogadores adversários, enquanto os jogadores no corredor batem palmas e entoam o nome do outro time. Depois o time contrário faz o inverso. Seja qual for o resultado do jogo, o terceiro tempo é obrigatório, ou seja: o time da casa oferece uma recepção regada a bebida, quando os lances mais duros, as disputas mais acirradas vão se transformar em abraços, em piadas, em congraçamento. Por isso, costuma-se dizer que o rugby é um jogo de bárbaros jogado por cavalheiros.<br /> Aqui no Brasil, por motivos que seria interessante pesquisar, o rugby é jogado por muito poucos, mas com muita paixão. Em Niterói, por exemplo, temos o Niterói Rugby, 5 vezes campeão brasileiro e ainda hoje uma das melhores equipes do Brasil, embora a maioria das esteja no estado de São Paulo.<br /> Quer ir a jogo de rugby na Inglaterra ? Vamos lá: o clássico Inglaterra versus Gales, a menos de um mês da Copa do Mundo de 2007*. É uma das partidas mais tradicionais do rugby mundial. A Inglaterra era a atual campeã do mundo e Gales sempre esteve entre as oito melhores seleções de rugby do planeta. Foi disputada no estádio de Twickenham, o templo do rugby, localizado em um subúrbio de Londres. Gales e Inglaterra jogaram em Twickenham pela primeira vez em 1910 (Inglaterra 11x6). Hoje em dia foi remodelado e tem a capacidade de receber com conforto 80 mil espectadores.<br /> Era um dia de céu claro e fazia até algum calor. A cerimônia de abertura foi bonita, apenas levemente nacionalista: militares com farda camuflada, carregando bandeiras da Inglaterra nos quatro cantos do campo enquanto as meninas do All Angels entoavam a canção de abertura.<br /> Depois veio o hino de Wales, ardorosamente entoado por seus animados torcedores, muitos dos quais abraçados na bandeira do dragão, usando perucas ruivas e belas camisas vermelhas. Em seguida, os mesmos torcedores, acompanhados dos ingleses, cantaram o famoso God Save the Queen.<br /> O público é tão educado que antes da partida começar eu “ouvi” o minuto de silêncio mais silencioso da minha vida. O jogo foi um massacre: 22x0 para a Inglaterra só no primeiro tempo. Os forwards - jogadores mais fortes que disputam a bola para passá-la aos rápidos e habilidosos backs - , estavam vandalizando a defesa de Gales. A torcida inglesa fez uma festa: no fim do primeiro tempo já cantavam Sweet Chariot, de forma tão doce que parecia canção de ninar. Originalmente Sweet Chariot era uma canção dos escravos americanos e hoje simboliza o rugby inglês.<br /> O comportamento da torcida é completamente diferente de um jogo de futebol. Além de Sweet chariot já mencionada, a torcida cantou somente “England, England” ou “Wales, Wales” – o que foi mais raro devido ao desenvolvimento do jogo; mais nenhuma canção e sobretudo nenhuma provocação ao adversário, nada, nadinha. O público manifestou-se bastante, até com vaias, em relação a jogadas muito violentas. Estas ficam ainda mais revoltantes com o close dado no telão. A maior vaia talvez tenha sido para os dois garotos que invadiram o campo (já no finalzinho do jogo) e foram imediatamente retirados. Há protestos quanto a decisões, mas sem que eu tenha ouvido um só palavrão, repito, nenhum palavrão durante o jogo inteiro. E olha que se bebe cerveja a rodo, com o pessoal, trazendo os copos de um pint (quase meio litro) até os stands (arquibancada), o que é terminantemente proibido em um jogo de futebol.<br /> Sobre o caráter pacífico do público de rugby, o senhor sentado ao meu lado contou um episódio interessante. Quando ele trouxe o filho dele pela primeira vez naquele estádio eles sentaram perto de uma turma de galeses. Com dez segundos de jogo a Inglaterra faz um try e o filho vira para ele: “Pai, vamos ter problemas”... Que nada, os galeses nem ligaram e o que fizeram foi oferecer um trago de cerveja... Tanto que não havia nenhuma separação entre galeses e ingleses, que sentavam-se lado a lado.<br /> Nos últimos segundos do jogo ocorre uma lance de arrepiar. Jason Robinson, número 11 da Inglaterra, um mulato baixo, forte como um touro e muito rápido, faz uma jogada que incendeia o estádio. Ele vem correndo com a bola na direção do último defensor de Gales, chuta a bola ao lado do desesperado adversário e vai pegá-la lá na frente, arrancando livre para o último try. Igualzinho ao “drible da vaca” – Mas com a pequena e muito importante diferença de fazer isso com uma bola oval...<br /><br />* England 62x5 Wales, 4 de agosto de 2007<br />Twickenham Stadium, England<br />Público: 66.131Marcos Alvitohttp://www.blogger.com/profile/04782210285593838126noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4110787133364190377.post-64646543015950928862007-12-10T18:55:00.000-02:002007-12-13T20:00:12.018-02:00The Red-Haired Monster and the Holy TrophyOi, pessoal, lá vai mais uma crônica inédita aqui no blog. Esta foi escrita a pedido dos meus amigos do FC United of Manchester, um clube criado em 2005 para protestar contra a tomada do Manchester United pelo bilionário americano Malcom Glazer. Eu fui até Manchester assistir a um jogo do FC e escrevi este artigo para homenageá-los.<br /><br />De qualquer forma, um artigo em português explicando tudo sobre o FC United estará no primeiro número da revista <span style="font-style: italic;">ContraCultura</span>, que será lançada no Bloco O do Campus do Gragoatá, Niterói, no dia 19 de dezembro (4a. feira), às 18h.<br /><br /><br /><p class="western" style="margin-bottom: 0cm;" align="justify" lang="en-GB"><span style="color: rgb(0, 0, 0);"><span style="font-family:Century Gothic,sans-serif;"><span style="font-size:130%;"><b>The Red-Haired Monster and the Holy Trophy </b></span></span></span></p><p class="western" style="margin-bottom: 0cm;" align="justify" lang="en-GB"><span style="color: rgb(0, 0, 0);"><span style="font-family:Century Gothic,sans-serif;"><span style="font-size:100%;">Once upon a time there was a humble Football Club founded by railway workers. All they wanted was to have some fun after a week’s work. They never imagined this club would become a global brand or one of the most important companies in the Entertainment Industry. At three different times strange villainous creatures tried to buy their club. First to come along was Dark Maxwell mounted on his BSkyB Dragon (or vice-versa). The fans blocked him. Second came the Two-Headed Coolmore Horse. The fans fought hard to successfully ward off this new threat. Finally the fans came face-to-face with the Red-haired Monster, whose tactics involved throwing green money in every direction. The fans rallied, singing “Not for Sale” and attacking the Monster in every possible way. But green money had magical powers and the enemy took over the Red Devils Castle.</span></span></span></p><p class="western" style="margin-bottom: 0cm;" align="justify" lang="en-GB"><span style="color: rgb(0, 0, 0);"><span style="font-family:Century Gothic,sans-serif;"><span style="font-size:100%;">The loyal fans felt outraged to see the Red-haired Monster walking their once sacred Trafford soil. But green money, though very powerful, couldn’t capture the most important treasure: Mancunian Soul. Few stuck with it, but those few were noble and trustworthy knights. They began building another castle, brick by brick… a difficult task amid the ever blowing winds of commoditisation and consumerism. The new citadel was called FC United of Manchester.</span></span></span></p><p class="western" style="margin-bottom: 0cm;" align="justify"><span lang="en-GB"><span style="font-size:100%;"><span style="font-family:Century Gothic,sans-serif;"><span style="color: rgb(0, 0, 0);">Thank you for humouring this analogy: I find it impossible to think of FC’s history without seeing it in an epic light. In this new, yet already very old, 21<sup>st</sup> century, when resignation to “the way things are” reigns, FC United of Manchester seems to me a truly beautiful story worthy of telling and retelling for the benefit of future generations. </span></span></span></span></p><p class="western" style="margin-bottom: 0cm;" align="justify" lang="en-GB"><span style="color: rgb(0, 0, 0);"><span style="font-family:Century Gothic,sans-serif;"><span style="font-size:100%;">The first I heard of it was two yeas ago in Lisbon, when I met Adam Brown, one of your founding warriors. But after the conference I returned to Brazil, where I live and work as a professor. So it was only on November 14, 2007, during my recent travels to England, on a cold Manchester night, that I had the opportunity to see FC United play, at long last.</span></span></span></p><p class="western" style="margin-bottom: 0cm;" align="justify"><span lang="en-GB"><span style="font-size:100%;"><span style="font-family:Century Gothic,sans-serif;"><span style="color: rgb(0, 0, 0);">Before I share my impressions of that match against Rossendale FC, you should know where I am coming from. Don’t hold it against me, but before arriving in England I was inclined to be an Arsenal fan! When I visited Emirates Stadium I was shocked: not only by the marble walls and the Airport-Mall architecture, but by the cold commercialism of it all. I decided to give them another chance and after a Homeric Quest I could buy a golden ticket to see Arsenal play against Sparta Prague. Wenger’s kids were brilliant, playing with such pace and quality that the other team seemed to be there to watch it too. But it was a very weird feeling, because my red seat was so cushy and pleasant and the public so silent that I thought I was on my sofa peacefully watching the Match of the Day. A brief look around explained it all. There were so many tourists that when somebody shouted “If you hate Tottenham, stand up”, only a few lifted their rear ends from the comfortable seats. Between the pitch and the stands there seemed to exist an invisible barrier, a net capable of blocking true emotions. It felt almost immoral to stand there, as if only a <i>voyeur</i>, not participating at all… without life, without passion.</span></span></span></span></p><p class="western" style="margin-bottom: 0cm;" align="justify"><span lang="en-GB"><span style="font-size:100%;"><span style="font-family:Century Gothic,sans-serif;"><span style="color: rgb(0, 0, 0);">Let’s come back to the less glamorous Unibond League First Division North. Let’s get back to real life, real football and real fans. That night at Gigg Lane didn’t start well. In the Main Stand between Adam and Tony, there was I, very happy to see a red shirt with no logo on it. By five minutes in, FC had conceded a very silly goal. 0x1 and my friends were probably thinking: “This Brazilian guy is not bringing good luck”. Well, 2<sup>nd</sup> half we moved to the Kop. And the goals started to flow like a river, 1, 2, 3… 5! I swear by Pelé that less than two thousand FC fans were louder and livelier that evening than 60.000 consumers at Emirates Airport.</span></span></span></span></p><p class="western" style="margin-bottom: 0cm;" align="justify" lang="en-GB"><span style="color: rgb(0, 0, 0);"><span style="font-family:Century Gothic,sans-serif;"><span style="font-size:100%;">I know it hasn’t been easy for you. The same night, when we were all at the pub celebrating, Tony confessed that every time he drives by Old Trafford he feels betrayed. He still senses that his seat, his place, his team, were taken from him. Like a bitter taste lingering, but not only in his mouth… in his soul. The next day, as any f… tourist would do, I went to visit Old Trafford. Our guide spoke of only one subject during the first ten minutes: money. He even dared to say that the revenue from the 165 corporate boxes allowed “ticket prices for the ordinary spectator to be kept on a realistic level”. Worse than that: believe it or not, the tour lasted more than one hour, and the guide didn’t mention one word about who founded the club, when or why! But he did show, to the delight of the female tourists on the tour – the very place were Beckham used to change his clothes. </span></span></span></p><p class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.27cm;" align="justify"><span lang="en-GB"><span style="font-size:100%;"><span style="font-family:Century Gothic,sans-serif;"><span style="color: rgb(0, 0, 0);">After this very instructive tour, I went to the Museum. It is a very fine one, of course. You can hear the original BBC news cast about the Munich Disaster. You can look at many photographs and watch many videos of past glories. Booby Charlton’s and Beckham’s shirts are all over the place. A big room full of trophies. There aren’t many things about Lancashire and Yorkshire Railway Cricket and Football Club, except for a replica of the original yellow and green shirt. A <i>replica</i>, not the real thing. </span></span></span></span></p><p class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.27cm;" align="justify" lang="en-GB"><span style="color: rgb(0, 0, 0);"><span style="font-family:Century Gothic,sans-serif;"><span style="font-size:100%;">That night when FC hammered Rossendale 5x1, the chant I heard the most times was “We all follow United, we are the Busby Boys”. Yes, you are. Nobody can take that Holy Trophy from you.</span></span></span></p>Marcos Alvitohttp://www.blogger.com/profile/04782210285593838126noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4110787133364190377.post-55871199957120461522007-12-03T11:36:00.000-02:002007-12-06T06:49:26.767-02:00CARTA DA INGLATERRACar@s amig@s, a crônica desta semana chama-se "Carta da Inglaterra" e foi publicada na <span style="font-weight: bold;">Revista Piauí </span>de dezembro, <span style="font-weight: bold;">já nas bancas</span>. Durante a semana vou publicar fotos inéditas aqui no site, ilustrando passagens do artigo.<br />Quem quiser dar uma força...<br /><br />um grande abraço a tod@s,<br /><br />Marcos Alvito<br /><br />P.S: Na próxima 3a., 11 de novembro, vou postar mais uma crônica, tudo volta ao normal.Marcos Alvitohttp://www.blogger.com/profile/04782210285593838126noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4110787133364190377.post-83027408931922856242007-11-27T08:36:00.000-02:002007-11-27T20:41:22.650-02:00CONVERSANDO COM A PRIMA DE MARADONA - SEGUNDA PARTEHoje continuamos nossa conversa com a jornalista argentina Marcela Mora y Araujo. Desta vez ela fala sobre os problemas de adaptação dos jogadores latino-americanos na Terra da Rainha, sobre a nebulosa máfia de agentes e dirigentes de futebol e, conforme prometido, sobre a famosa <em>gambetta</em>.<br />A partir de uma série de entrevistas e contatos com jogadores sul-americanos, sobretudo argentinos, Marcela percebeu um problema que poucos conseguem imaginar. Famosos e muito bem pagos, nem por isso os jogadores de futebol integram-se com facilidade à sociedade inglesa. Ficam isolados, primeiramente, pela língua. <em>“Para um ser humano é espantosa a circunstância de trabalhar sem conhecer o idioma de seus companheiros</em>”, comenta Marcela. <em>“Isso acontece aos jogadores de futebol o tempo todo. Os futebolistas se movem como nômades. Até a Arábia Saudita está cheia de jogadores vindos do mundo todo.”</em> Quando chegam ao clube, jogadores como Tévez ou Verón ficam sentados no vestiário sem entender as piadas, sem poder conversar com ninguém.<br />Há diferenças que afetam muito o rendimento dos jogadores. Na Inglaterra, lembra Marcela, os jogadores chegam, cada um no seu carro, apenas 3 horas antes do jogo. Na Argentina a equipe fica concentrada três dias, jogando cartas e conversando. Quer dizer, na Inglaterra é mais difícil criar um vínculo pessoal, é uma relação fria, estritamente profissional. Em campo, o jogador muitas vezes é colocado fora da sua posição, rende mal e acaba na reserva.<br />Fora de campo também é complicado. Certa vez, conversando com Hernán Crespo, famoso goleador da seleção argentina, ele disse a ela: <em>“Estou aqui na minha casa luxuosa, sem saber como fazer para estabelecer uma conexão à Internet, sem saber a quem chamar e sem saber como falar”.</em> Os clubes investem milhões nestes jogadores, mas ao contrário do que fazem empresas multinacionais ou até mesmo o Exército, não há nenhuma infra-estrutura de apoio. Um jogador entrevistado por ela dependia totalmente de um amigo que falava a sua língua. A tal ponto que quando a mulher do jogador foi dar à luz ele levou o amigo para assistir ao parto, porque ele era a única pessoa em quem confiava e a única esperança de comunicar-se com os médicos. Marcela recorda um outro caso, em que a esposa do jogador mexicano Juan Pablo Angel foi atendida em estado grave, enquanto ele <em>“ficou numa cadeira dormindo com o bebê recém-nascido nos braços, sem entender nada da língua nem ser capaz de falar nada.”</em> Ela vê isso como um caso extremo de alienação.<br />A barreira mais difícil de transpor diz respeito à própria forma de jogar futebol. Marcela conta um caso delicioso a esse respeito. Em uma Copa do Mundo, a seleção argentina marcou um belíssimo gol a partir de uma troca de 24 passes. O que gerou o comentário indignado de um torcedor inglês pela Internet: <em>“Pra quê gastar 24 passes se um chutão do goleiro daria o mesmo resultado?”<br /></em>Os jogadores sul-americanos gostam de ficar com a bola, manter a posse da bola, enquanto os ingleses gostam de correr pelo campo, em lançamentos longos para a frente. Para Marcela, esta diferença nasce do contexto econômico: <em>“na América do Sul, as crianças pobres têm na bola o único brinquedo, dividido com dezenas de outras crianças. É normal que apreciem ficar com ela.”</em> Na Inglaterra o sistema é outro: a individualidade é malvista e desde cedo as fantasias e as jogadas criativas são recriminadas em nome do jogo coletivo. <em>“O jogador argentino”,</em> diz Mora y Araujo elaborando sua hipótese, <em>“tem o desejo pela bola, o desejo de criança de entrar em campo e ficar com ela o maior tempo possível, não quer dar um chutão para um companheiro lá na frente como no futebol inglês.”<br /></em>Para Marcela, não há nada que exemplifique melhor esta defasagem cultural do que o termo <em>gambetta</em>. A palavra vem do italiano, mas é vista como sinônimo do futebol argentino. Para o ex-craque da seleção argentina Jorge Valdano, <em>“a gambetta é o gosto pela firula, é outra forma de dançar o tango”</em>. Há dois elementos essenciais no ato de “gambetear”. O primeiro é enganar o adversário e o outro é brincar com a bola, guardá-la para si. Até mesmo jogadores que não “gambeteiam” valorizam a <em>gambetta</em>, por ela fazer parte de uma tradição cultural na qual estão inseridos. Mascherano, conhecido como um impiedoso volante de contenção, definiu a <em>gambetta</em> como <em>“Aquilo que o futebol tem de mais lindo”.</em> O eficiente mas não muito técnico Hernan Crespo foi direto como seus potentes chutes a gol: <em>“É aquilo que os argentinos sabem fazer.”</em> Para o habilidoso Carlos Tévez, a <em>gambetta</em> é <em>“driblar com tango, tentando enganar e bater seu adversário”.</em><br />A <em>gambetta</em>, este traço identitário do jogador argentina, é intraduzível para o inglês, argumenta Marcela. Sendo assim, fica tudo mais complicado: <em>“Como fazer se se não há palavra para o teu papel dentro de campo, se não há palavra para o que fazes com o teu corpo?”</em> Na Itália e na Espanha, ao contrário, não há a mesma dificuldade, a comida é a mesma, o estilo de futebol é familiar.<br />O jogador sul-americano, ademais, vem de uma cultura em que as regras informais imperam, e Marcela lembra que quando visitou o Rio foi aconselhada a não parar nos sinais vermelhos. Mas não é isso que acontece na Inglaterra. <em>“Aqui</em>”, enfatiza Marcela, <em>“a princípio tem que se seguir a regra escrita, é essa que vale”.</em> É claro que os ingleses não são santos. Cita um episódio que ilustra bem o que quer dizer. Ela estava fazendo um programa em que o grande atacante inglês Gary Lineker, ex-chuteira de ouro na Europa, entrevistava os outros jogadores já agraciados com o mesmo prêmio. Lineker era sempre anunciado como o jogador que nunca levara um cartão amarelo. Intrigada com aquilo, Marcela pergunta a ele se nunca havia feito uma falta. Lineker responde zangado <em>“É claro que sim! Mas nunca tomei um cartão!”</em> Ou seja: a questão é <em>“not get caught</em>”, evitar ser pego em flagrante. Marcela aponta as incoerências: <em>“Aqui se critica a simulação mas também se pratica, aqui se critica um gol de mão, mas se ganha um Mundial com uma bola que não se sabe se atravessou a linha, é um sistema de valores diferente, mas nesta cultura nunca se pode dizer 'Ah, mas essa regra não vale.'”</em> Tudo isto dificulta a carreira dos jogadores latino-americanos no futebol inglês.<br />Caso raro de jogador brasileiro bem adaptado ao futebol da ilha, Gilberto Siva foi entrevistado por Marcela para uma revista da Nike. A empresa de material esportivo queria que Gilberto Silva dissesse que no Brasil é mais importante jogar bonito do que ganhar. <em>“Logo Gilberto Silva</em>”, diz Marcela sem conter um riso irônico, <em>“que ganhou um Mundial [2002] com um Brasil que jogava um futebol nada bonito”</em>. E durante a entrevista ele afirmava: <em>“No Brasil é muito importante ganhar, estou muito orgulhoso de haver ganho uma Copa do Mundo”.</em> Marcela entrega a entrevista e dizem a ela que seria necessário que Gilberto dissesse algo mais (aquilo que eles queriam). <em>“Então mostrei-lhes a transcrição integral da entrevista em que eu lhe perguntava: 'Poderia dizer que no Brasil é menos importante ganhar do que jogar bonito ... ' E ele respondia: 'Não, não, não”, foram oito negativas em seguida”.</em> Apesar disso a Nike publicou: <em>“No Brasil jogar bonito é mais importante do que ganhar, diz Gilberto Silva”.</em> Para Marcela, este episódio revela <em>“como se vende o futebol, de como se embala, empacota e se projeta uma idéia”.</em><br />Sobre o futebol como negócio, Marcela relembra um encontro com Kia Joorabchian e amigos deste. <em>“Em um desses hotéis cinco estrelas indo atrás dos jogadores e de suas famílias, esbarrava em empresários gordos e engravatados, sentados falando ao celular e fumando charuto. Perguntei a um deles se concordava que o futebol era uma forma de poesia ou arte.”</em> Ele negou, sorrindo e afirmando cinicamente: <em>“Futebol é cobiça”.</em> Com os bilhões hoje gerados pelo esporte mais popular do planeta, personagens escusas gravitam em torno dos jogadores. Marcela é contundente a este respeito: <em>“os jogadores são trabalhadores em torno dos quais se construiu esse monstro. Podemos vê-los como soldados, como os músculos de uma organização criminosa, marionetes de um cenário assustador com gangsters panamenhos, árabes misteriosos e personagens deste quilate.”<br /></em>O genial Maradona conhece como ninguém este teatro. Marcela estava com ele quando o barraram na entrada de uma tribuna especial. O craque estava de jeans e camiseta, e ali o traje obrigatório era camisa e gravata. Maradona recusou-se a mudar de roupa e desabafou com Marcela: <em>“O que esses caras não entendem é que tudo isso, toda essa riqueza, foi criada por nós, jogadores de futebol”.</em> Os pés de Diego Armando Maradona não pisam mais os campos com sua inigualável e sempre surpreendente técnica. Mas sua “prima espiritual” Marcela Mora y Araujo usa sua visão refinada e crítica para apontar que há algo de errado nesse enredo: <em>“Aonde há pobreza haverá bons jogadores. E eles serão vendidos para a Europa e haverá pessoas pagando para vê-los e se fará dinheiro com eles. Nós, o público, somos os consumidores desse negócio. É um desafio conseguir fazer com que o futebol, além de um grande show, não seja algo grotesco.”</em><br /><br /><strong>Prorrogação</strong>:<br />Marcela sempre interessou-se pelos aspectos culturais e políticos do futebol. Quem quiser conferir pode dar uma clicada neste excelente artigo sobre a Holanda vista pelos argentinos e que explica de forma exemplar o uso que a Ditadura Militar argentina fez da Copa de 1978 (link: <a href="http://blogs.guardian.co.uk/worldcup06/2006/06/21/holland_according_to_argentina.html">http://blogs.guardian.co.uk/worldcup06/2006/06/21/holland_according_to_argentina.html</a> ).Marcos Alvitohttp://www.blogger.com/profile/04782210285593838126noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4110787133364190377.post-90252364874529488292007-11-19T19:51:00.000-02:002007-11-27T09:02:57.482-02:00Conversando com a prima de Maradona (crônica inédita) - A 2a. PARTE será postada HOJE A NOITE<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://3.bp.blogspot.com/_IwK76splDDQ/R0IGBGUyiII/AAAAAAAAAI0/qQLaLFwTHkk/s1600-h/Vazio+deixado+pelos+bbravas+do+Boca+para+Jose+El+Abuelo+Barrita.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5134673141103233154" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: pointer; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://3.bp.blogspot.com/_IwK76splDDQ/R0IGBGUyiII/AAAAAAAAAI0/qQLaLFwTHkk/s320/Vazio+deixado+pelos+bbravas+do+Boca+para+Jose+El+Abuelo+Barrita.jpg" border="0" /></a><br /><br /><p class="western" style="MARGIN-BOTTOM: 0cm" align="justify"><br /></p><p class="western" style="MARGIN-BOTTOM: 0cm" align="justify"><span style="font-family:Century Gothic,sans-serif;">Mentira. Marcela Mora y Araujo não é prima de Diego Armando Maradona. Mas esta jornalista argentina também é craque. Veio aos quinze anos para a Inglaterra, onde estudou e começou sua carreira no rádio. Logo percebeu que seria inapelavelmente escalada para cobrir a América Latina. Sendo assim, escolhe o esporte, pois <i>“era algo agradável de que eu poderia me orgulhar enquanto na política e na economia era tudo nefasto.”</i> Seu envolvimento com o futebol veio de berço: teve um avô que foi jornalista esportivo e desde menina frequentava a Bombonera com sua família. Afirma com voz tranquila: <i>“O Mundial da Argentina foi jogado quando eu tinha 11 anos, Maradona virou um ídolo juvenil quando eu tinha doze anos, ou seja, é algo absolutamente da minha geração... o futebol me acompanhou sempre, na minha vida pessoal e na minha identidade nacional, por toda a vida.”</i> Enquanto tomávamos um café em volta de uma mesa onde se amontoavam dezenas figurinhas de jogadores ingleses colecionadas por seu filho, Marcela concedeu uma entrevista exclusiva ao nosso blog (que marra, hein!).</span></p><p class="western" style="MARGIN-BOTTOM: 0cm" align="justify"><span style="font-family:Century Gothic,sans-serif;">Trabalhando para a BBC em 1994, fez uma importante reportagem sobre os <i>hinchas</i> (torcedores organizados) do Boca Juniors. Conseguiu entrevistar José “El Abuelo” (“Vovô”) Barritta o mítico líder da Barra Brava do Boca. Descobriu que ele comandava uma rede muito bem organizada que explorava de tudo no bairro, desde a venda de ingressos para os jogos até o tráfico de drogas, passando pela venda de refrigerantes e sanduíches no estádio. Mas a organização liderada por José Barritta também fazia caridade, ajudava crianças com necessidades especiais, enfim, criava uma rede clientelística tão forte que quando ele morreu em 2001, com 48 anos, o seu enterro foi um verdadeiro acontecimento.</span></p><p class="western" style="MARGIN-BOTTOM: 0cm" align="justify"><span style="font-family:Century Gothic,sans-serif;">Marcela estava com Barrita durante o clássico Boca x River, vencido pelo último por dois a zero. Acontece que depois do jogo, longe do estádio, dois torcedores do River foram assassinados, um com 19, outro com 23 anos. E nos muros de Buenos Aires apareceu a seguinte pichação: “Boca <b>2</b>x2 River”. Ou seja: um torcedor do River morto para cada gol. Três anos depois “El Abuelo” foi preso e condenado a treze anos de prisão, embora no momento do crime ele estivesse em outro lugar da cidade com Marcela e dezenas de outros torcedores. As autoridades argentinas, pressionadas pela opinião pública para que dessem um basta no problema da violência das torcidas lançaram mão da "Associação Ilícita", um recurso jurídico da época da Ditadura Militar para prender José Barrita, mesmo que nunca tenham comprovado a sua participação nas mortes dos torcedores do River Plate. Esse mesmo tipo de malabarismo legal foi utilizado na Holanda contra o hooliganismo das torcidas de Ajax e Feyenoord.<br /></span></p><p class="western" style="MARGIN-BOTTOM: 0cm" align="justify"><span style="font-family:Century Gothic,sans-serif;">Mesmo assim, “El Abuelo” se fazia presente em La Bombonera. “La Numero Doze” é como se chama a hinchada do Boca, um nome que reconhece a importância do grupo como uma espécie de 12o. jogador. Pois bem, enquanto “El Abuelo” esteve preso, graças à utilização de uma lei da época da Ditadura Militar, a Barra Brava do Boca deixava um vasto espaço vazio na arquibancada para simbolizar o lugar que deveria ser ocupado pelo seu líder (ver foto acima). <i>“A partir de este incidente”</i><span style="FONT-STYLE: normal">, afirma Marcela,</span><i> “passei a entender que o futebol reflete tudo o que ocorre na sociedade.</i>” </span></p><p class="western" style="MARGIN-BOTTOM: 0cm" align="justify"><span style="font-family:Century Gothic,sans-serif;">Na Inglaterra ela fez várias reportagens sobre <i>hooligans</i> e tem uma interpretação extremamente original sobre o declínio da violência nos estádios ingleses. Não nega ter havido uma “revolução” no futebol inglês com a entrada do dinheiro da televisão a cabo (Sky), o pesado investimento no controle e na repressão, o aumento exorbitante dos preços e o fim dos <i>terraces</i> (local atrás do gol onde os torcedores mais fanáticos assistiam ao jogo de pé). Tudo isso foi importante, diz ela, mas há algo que os jornais não noticiam. Trata-se de uma transformação na cultura juvenil. Na década de 90 os jovens ingleses passaram a reunir-se ilegalmente em lugares descampados onde ouviam música e consumiam <i>ecstasy</i>. Essas festas que chegavam a reunir 4 a 5 mil jovens apresentavam, todavia, um problema difícil: como reunir toda essa gente sem despertar a atenção da polícia? Foi aí, segundo Marcela Mora y Araujo, que entraram em campo os <i>hooligans</i>, que já dispunham de redes subterrâneas informais e do <i>know-how</i> para enganar os homens da lei. Os caras passaram a fazer a segurança das <i>raves</i>, como eram chamadas essas festas. Depois de passar a 6a. feira à noite dançando e conversando com <i>hooligans</i> de outros clubes, quando chegava o sábado à tarde não havia mais clima para baterem uns nos outros. A hipótese de Marcela, além de extremamente original, chama a atenção para uma questão crucial: a violência das torcidas não diz respeito ao futebol somente e sim às formas de lazer da juventude.</span></p><p class="western" style="MARGIN-BOTTOM: 0cm" align="justify"><span style="font-family:Century Gothic,sans-serif;">Hoje em dia, Marcela mantém um blog no <i>The Guardian</i> (<a href="http://ww.guardian.co.uk/">http://ww.guardian.co.uk/</a> ) para o qual escreve regularmente sobre futebol argentino e sobre os jogadores latino americanos que disputam a Premier League. Para chegar a ser uma jornalista esportiva respeitada e conhecida como hoje, o caminho de Mora y Araujo não foi tranquilo. Quando ainda trabalhava na BBC, o colega que era responsável pela parte de esportes teria que ausentar-se por dois meses. Marcela ofereceu-se para substituí-lo mas tem o seu pedido negado por ser mulher. Recorre formalmente a seus superiores e participa de um concurso anônimo organizado pela empresa para decidir quem assumiria o posto. Fica em primeiro lugar mas é obrigada a aceitar trabalhar em parceria com <u>um</u> colega. Aos poucos, foi granjeando seu espaço e acabou sendo a diretora da cobertura de uma Copa do Mundo, além de ter feito um documentário sobre as duas copas do mundo ganhas pela Argentina (1978 e 1986) e o contexto político. Participou inclusive do filme oficial da Fifa sobre as copas do mundo. </span></p><p class="western" style="MARGIN-BOTTOM: 0cm" align="justify"><span style="font-family:Century Gothic,sans-serif;">Ela exemplifica a principal diferença entre o futebol inglês e o futebol argentino a partir do termo <i>gambetta</i>, originário do italiano e segundo Marcela absolutamente intraduzível para os súditos da Rainha. Mas isto será tema da nossa crônica da semana que vem, quando continuaremos a conversa com Marcela Mora y Araujo.</span> </p><p class="western" style="MARGIN-BOTTOM: 0cm" align="justify"><span style="font-family:Century Gothic,sans-serif;"></span></p>Marcos Alvitohttp://www.blogger.com/profile/04782210285593838126noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4110787133364190377.post-85023932412109439652007-11-12T20:28:00.000-02:002007-11-13T04:37:27.606-02:00Malandros Otários (outra crônica inédita)<p class="western" style="MARGIN-BOTTOM: 0cm" align="justify"></p><p class="western" style="MARGIN-BOTTOM: 0cm"><span style="color:#000000;"><span style="font-family:Century Gothic, sans-serif;"><span style="font-size:130%;"><b>Malandros otários</b></span></span></span></p><p class="western" style="MARGIN-BOTTOM: 0cm"><br /></p><p class="western" style="MARGIN-BOTTOM: 0cm" align="justify"><span style="color:#000000;">“<span style="font-family:Century Gothic, sans-serif;"><span style="font-size:100%;">Se malandro soubesse como é bom ser honesto, seria honesto só por malandragem”</span></span></span></p><p class="western" style="MARGIN-BOTTOM: 0cm" align="justify"><br /></p><p class="western" style="MARGIN-BOTTOM: 0cm" align="right"><span style="color:#000000;"><span style="font-family:Century Gothic, sans-serif;"><span style="font-size:100%;">Jorge Ben</span></span></span></p><p class="western" style="MARGIN-BOTTOM: 0cm" align="justify"><br /></p><p class="western" style="MARGIN-BOTTOM: 0cm" align="justify"><span style="color:#000000;"><span style="font-family:Century Gothic, sans-serif;"><span style="font-size:100%;">A primeira vez que aconteceu eu tomei um susto. Depois de quase quatro meses na Inglaterra, assistindo a dezenas de jogos de várias divisões diferentes, alguns jogos femininos, rugby e até cricket, eu ainda não tinha visto aquilo. Naquela tarde, antes do jogo começar, eu vi o juiz e os bandeirinhas serem vaiados pela primeira vez. Estava acostumado a ir a jogos de futebol no Brasil, onde os homens de preto sempre são saudados com uma estrondosa vaia antes de terem tempo de entrar em campo. Sem falar nas homenagem habituais à progenitora de vossa excelência durante o jogo propriamente dito. Mas na Terra da Rainha é bem diferente. </span></span></span></p><p class="western" style="MARGIN-BOTTOM: 0cm" align="justify"><span style="color:#000000;"><span style="font-family:Century Gothic, sans-serif;"><span style="font-size:100%;">É claro que os juízes são muito criticados pelos comentaristas por suas falhas e os torcedores também não costumam perdoá-los. Ou seja, é claro que por aqui também se xinga o juiz, até com muita veemência embora sem tanta frequência. O humor inglês se faz presente nessa hora. Quando fui assistir a um jogo do Doncaster Rovers contra o Leyton Orient, meu amigo John Coyle, fanático torcedor do “Donnie”, enfurecido com a atuação do juiz, gritava frases que arrancavam risos da turma em volta. Suas broncas iam desde o mais tradicional: “Are you blind?” (“Você está cego?”), até o mais criativo “Why don't you put a blue shirt?” (“Por quê você não veste uma camisa azul?” - cor do time adversário); sem falar em reclamações habituais: “What does it take for us to get a penalty?” (“O que tem que acontecer para você marcar um pênalti a nosso favor?”) ou “When are you going to take the yellow card from your pocket?” (“Quando é que você vai tirar o cartão amarelo do bolso?”). Até mesmo durante jogos de rugby, onde o público é bem mais contido e educado nas suas manifestações, já vi o juiz quase ser vaiado por uma marcação <u>durante</u> o jogo.</span></span></span></p><p class="western" style="MARGIN-BOTTOM: 0cm" align="justify"><span style="color:#000000;"><span style="font-family:Century Gothic, sans-serif;"><span style="font-size:100%;">Agora, vaiar o juiz à entrada, eu nunca tinha visto. É claro que toda a regra tem a sua exceção. Se há um lugar na Inglaterra onde o juiz haveria de ser vaiado era ali. Eu estava em Millwall, bairro de Londres famoso às avessas. O time da casa, o Millwall F.C., é bem mais conhecido pelos seus <i>hooligans</i> - dos quais ainda falaremos em outra crônica, do que pela boa qualidade do futebol ou pelas escassas conquistas. Mas eu vou falar de Millwall outro dia, a crônica de hoje é sobre malandragem.</span></span></span></p><p class="western" style="MARGIN-BOTTOM: 0cm" align="justify"><span style="color:#000000;"><span style="font-family:Century Gothic, sans-serif;"><span style="font-size:100%;">Malandragem? É que a vaia ao juiz chamou a minha atenção para uma das maiores diferenças em termos da forma pela qual o futebol é jogado e apreciado no Brasil e na Inglaterra. O caso do goleiro brasileiro Dida, ocorrido no início de outubro de 2007, ilustra bem o que estou querendo dizer. Em um jogo da <i>Champions League</i> entre a sua equipe, o Milan e o clube escocês Celtic, um torcedor de 27 anos, Robert McHendry, entrou em campo quase ao final da partida. Embora seu time, o Celtic, estivesse vencendo por 2x1, McHendry invadiu o gramado e correu na direção de Dida, tocando no ombro do goleiro e dizendo “Bad luck, Dida” (“Azar, Dida”). A primeira reação de Dida foi correr atrás do torcedor, para depois desabar em campo, do qual saiu carregado na maca. A UEFA, depois de examinar o video-tape do incidente, multou o Celtic e puniu Dida com uma suspensão de dois jogos, por desrespeitar regras que dizem respeito à “lealdade, integridade e espírito esportivo”. Em suma: por ser um mau ator. Até aí, todo mundo sabe.</span></span></span></p><p class="western" style="MARGIN-BOTTOM: 0cm" align="justify"><span style="color:#000000;"><span style="font-family:Century Gothic, sans-serif;"><span style="font-size:100%;">O incrível é que a reação das pessoas com quem conversei por aqui foi extremamente forte. Dois famosos sociólogos do futebol com quem conversei, desprezaram diferenças culturais e simplesmente se disseram enojados com o comportamento de Dida. A partir daí eu comecei a reparar que o público nas arquibancadas é absolutamente implacável diante da menor possibilidade de “simulação”, ou seja, de um jogador fingir ter sido atingido por um adversário ou mesmo exagerar na gravidade da falta, contorcendo-se na grama. A torcida em uníssono começa a gritar a plenos pulmões “Cheat, cheat!” (“Enganador”). Ou então, no caso da famosa propensão dos atacantes em voarem dentro da área: “Dive, dive!” (“Atirou-se”). É o suficiente para aquele jogador passar a ser perseguido por vaias durante o resto da partida. </span></span></span></p><p class="western" style="MARGIN-BOTTOM: 0cm" align="justify"><span style="color:#000000;"><span style="font-family:Century Gothic, sans-serif;"><span style="font-size:100%;">Outra diferença é que o comportamento de juízes e jogadores tende a ser (o que equivale a dizer que nem <u>sempre</u> é) mais discreto e equilibrado. Não é tão comum ver os jogadores “peitarem” o juiz e, por outro lado, os juízes dão cartões amarelos e vermelhos muitas vezes sem nem levantar o braço direito, em gestos bem menos espalhafatosos e histéricos que seus colegas sul-americanos. O jogo é bem menos truncado, porque as faltas são em média 25 por jogo, enquanto no Brasil não é incomum termos 40, 60 e até 80 faltas por jogo. É bom notar também que a palavra para “juiz” por aqui é <i>referee</i>, ou seja, árbitro, ao contrário do nosso “juiz”, que estabelece uma interessante e nada elogiosa analogia (para ambos os lados) entre os sopradores de apito e nossos magistrados. Mas agora a pelota do raciocínio já está saindo pela linha de fundo. Voltemos ao mais importante.</span></span></span></p><p class="western" style="MARGIN-BOTTOM: 0cm" align="justify"><span style="color:#000000;"><span style="font-family:Century Gothic, sans-serif;"><span style="font-size:100%;">No Brasil faz parte da “malandragem” cavar uma falta ou buscar a expulsão do adversário através de uma pantomima. Não digo que isso não ocorra na Inglaterra, mas os torcedores (e os comentaristas) vêem isso como absolutamente inaceitável. Pode ser um resquício do <span style="font-size:+0;"><i>ethos</i></span> do amadorismo, em que até mesmo treinar era visto como uma forma de desvio em relação ao “fair play”: os dois times tinham que se enfrentar sem preparar-se, que vencesse o melhor. É claro que estamos muito longe dessa época, e o futebol já é profissional na Inglaterra há mais de um século. Mas acho que essa atitude tem relação com o fato do juiz não ser normalmente vaiado ao entrar em campo. É algo que tendo a explicar pensando em questões maiores.</span></span></span></p><p class="western" style="MARGIN-BOTTOM: 0cm" align="justify"><span style="color:#000000;"><span style="font-family:Century Gothic, sans-serif;"><span style="font-size:100%;">Por questões maiores entendo a própria cultura política e as diferenças em termos de cidadania nos dois países. A tradição de um Estado autoritário e centralizador, desvinculado da sociedade, torna qualquer autoridade suspeita: “todo político é corrupto, todo policial é bandido e todo o juiz de futebol é ladrão”. Todo representante da lei é culpado até prova em contrário, o que é apenas o contra-dom ofertado por um povo que – exceto uma elite privilegiada, é tratado como cidadão de terceira classe. O sistema político da Inglaterra, um parlamentarismo que dura vários séculos sem solução de continuidade, tem muito mais credibilidade junto a seus cidadãos. Os policiais andam de cabeça erguida e desfrutam de relativo respeito. E os juízes de futebol são vaiados e xingados, mas só <i>depois</i> do jogo começar...</span></span></span></p>Marcos Alvitohttp://www.blogger.com/profile/04782210285593838126noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-4110787133364190377.post-4865002085353343682007-11-06T04:16:00.000-02:002007-11-12T21:17:01.218-02:00Blyth Spartans x Hinckley United (Crônica Inédita)<p class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family:Century Gothic,sans-serif;"><span style="font-size:130%;"><b>Blyth Spartans x Hinckley United</b></span></span></p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br /></p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;" align="justify"><span style="font-family:Century Gothic,sans-serif;"> Já ouviste falar do Blyth Spartans? E do Barrow? Que tal o Hinckley United? São todos clubes da 6a. Divisão-norte e alguns de seus jogadores são profissionais. O Brasil, como todos sabem, tem apenas 3 divisões nacionais, além dos inúmeros campeonatos estaduais e suas respectivas divisões. Já na Inglaterra, o sistema é bem diferente. Para começar, há a Barclay's Premier League e abaixo dela, mais três divisões: Coca-Cola Championship (2a. Divisão), Coca-Cola League One (3a. Divisão), e Coca-Cola League Two (4a. Divisão). Até aqui, tudo normal. Os 92 clubes destas quatro primeiras divisões são chamados de <i>League Clubs</i>. Eles representam a fina-flor do futebol inglês. Mesmo na 3a. divisão (Coca-Cola League One), há clubes que já foram campeões europeus como o Leeds e o Nottingham Forest. Os jogadores destes 92 <i>League Clubs</i> são todos profissionais de tempo integral, alguns deles ganhando mais de 100 mil libras (400 mil reais) <u>por semana</u> !</span></p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;" align="justify"><span style="font-family:Century Gothic,sans-serif;"> Como estão divididos os 92 League Clubs? Sabe aquelas aulas de geometria e de cálculo que você faltou no colégio? Vão fazer falta, mas farei um esquema para facilitar:</span></p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;" align="justify"><br /></p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;" align="justify"><span style="font-family:Century Gothic,sans-serif;"><b>BARCLAY'S PREMIER LEAGUE – 20 clubes</b></span></p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family:Century Gothic,sans-serif;">Caem 3 para a Coca-Cola Championship <b><span style="font-size:180%;">↓↓↓</span></b></span></p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;" align="justify"><br /></p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;" align="justify"><span style="font-family:Century Gothic,sans-serif;"><b>COCA-COLA CHAMPIONSHIP – 24 clubes</b></span></p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;" align="justify"><span style="font-family:Century Gothic,sans-serif;">Sobem 3 para a BARCLAY'S PREMIER LEAGUE <b><span style="font-size:180%;">↑↑↑</span></b></span></p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;" align="justify"> <span style="font-family:Century Gothic,sans-serif;"><span style="font-size:100%;">Caem 3 para a COCA-COLA LEAGUE ONE <b><span style="font-size:180%;">↓↓↓</span></b></span></span></p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;" align="justify"><br /></p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;" align="justify"> <span style="font-family:Century Gothic,sans-serif;"><span style="font-size:100%;"><b>COCA-COLA LEAGUE ONE – 24 clubes</b> </span></span> </p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;" align="justify"><span style="font-family:Century Gothic,sans-serif;">Sobem 3 para a COCA-COLA CHAMPIONSHIP <b><span style="font-size:180%;">↑↑↑</span></b></span></p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;" align="justify"> <span style="font-family:Century Gothic,sans-serif;"><span style="font-size:100%;">Caem 4 para a COCA-COLA LEAGUE TWO <b><span style="font-size:180%;">↓↓↓↓</span></b></span></span></p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;" align="justify"><br /></p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;" align="justify"> <span style="font-family:Century Gothic,sans-serif;"><span style="font-size:100%;"><b>COCA-COLA LEAGUE TWO – 24 clubes</b> </span></span> </p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;" align="justify"><span style="font-family:Century Gothic,sans-serif;"><span style="font-size:100%;">Sobem 4 para a COCA-COLA LEAGUE ONE </span></span><span style="font-family:Century Gothic,sans-serif;"><span style="font-size:180%;"><b> ↑↑↑↑</b></span></span></p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;" align="justify"> <span style="font-family:Century Gothic,sans-serif;"><span style="font-size:100%;">Caem 2 para a BLUE SQUARE PREMIER <b><span style="font-size:180%;">↓↓</span></b></span></span></p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;" align="justify"><br /></p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;" align="justify"><span style="font-family:Century Gothic,sans-serif;"><span style="font-size:100%;"><b> </b><span style="">Até aqui, a maior moleza, não é mesmo? Mas agora começa a complicar um pouquinho. A partir daqui temos os <i>Non-League Clubs</i>, ou seja, clubes que não pertencem à elite dos 92 clubes da Football League. A última divisão totalmente nacional – isto é, com clubes do país todo e não somente de uma região da Inglaterra – é a Blue Square Premier, o que em bom português (do Brasil) seria a 5a. Divisão. A imensa maioria dos jogadores é profissional, mas alguns são obrigados a dividir o futebol com outra atividade, ou seja, são semi-profissionais. Dentre os times desta 5a. Divisão há clubes importantes, como o Exeter City, time que em 1902 jogou um amistoso contra a primeira seleção brasileira da história; ou o Oxford United, que já foi campeão da F.A. Cup, o torneio de futebol mais antigo do mundo e do qual ainda falaremos. O Oxford joga em um moderno estádio para 12.500 pessoas, mas há também pequenos clubes, como o Farsley Celtic, que tem um estádio para somente 500 espectadores sentados e que na temporada anterior (2005-6) teve uma média de 390 pagantes. De qualquer forma, a Blue Square Premier ou 5a. Divisão tem seus resultados publicados nos jornais e vários dos seus jogos transmitidos por canais a cabo de televisão em rede nacional. E os dois melhores colocados sobem para a elite dos 92 League Clubs.</span></span></span></p><br /><span style="font-family:Century Gothic,sans-serif;"><span style="font-size:100%;">Abaixo da 5a. Divisão, não temos mais divisões nacionais e sim divisões regionais. Por exemplo: a 6a. Divisão é dividida em Blue Square North e Blue Square South, ou seja, 6a. Divisão-norte (onde estão os 3 clubes mencionados no início deste artigo) e 6a. Divisão-sul. Os melhores clubes de cada uma destas sub-divisões regionais, após o fim dos respectivos campeonatos disputam um playoff para estabelecer quais clubes serão promovidos para a Blue Square Premier. Os piores de cada sub-divisão também disputam um playoff para ver quem cai para as subdivisões da 7a. Divisão, por sua vez tripartida em Unibond Premier, BGB South Premier e Ryman Premier. Cada uma destas, por sua vez, subdivide-se em duas. O que faz com que tenhamos temos 6 subdivisões na 8a. divisão. Está difícil de acompanhar? Vamos fazer mais um esquema:</span></span> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;" align="justify"><br /></p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;" align="center"><span style="font-family:Century Gothic,sans-serif;"><b>BLUE SQUARE PREMIER – 24 clubes</b></span></p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;" align="justify"><br /></p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;" align="center"> <span style="font-family:Century Gothic,sans-serif;"><span style="font-size:85%;"><b>BLUE SQUARE SOUTH – 22 clubes</b> <b>BLUE SQUARE NORTH – 22 clubes</b></span></span></p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;" align="center"><br /></p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;" align="center"><span style="font-family:Century Gothic,sans-serif;"><span style="font-size:85%;"><b>UNIBOND PREMIER -21clubes BGB SOUTHERN PREMIER-22 clubes RYMAN PREMIER-22 clubes </b></span></span></p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;" align="center"> </p><br /><span style="font-family:Century Gothic,sans-serif;"><span style="font-size:100%;">Aqui somente os times mais fortes têm alguns semi-profissionais e a maioria dos jogadores é composta por amadores. E assim continua até aproximadamente a 16a. Divisão, subdividida em inúmeras pequenas ligas regionais. Só para ter uma idéia: abaixo da 8a. Divisão, a 9a. Divisão tem nove pequenas ligas, cujos melhores clubes disputam um playoff para subirem um degrau na pirâmide do futebol inglês. Teoricamente, portanto, um time de amadores poderia ir subindo, subindo, até chegar na Premier League... Além de absolutamente improvável, todavia, iria demorar quase uns vinte anos, mesmo que o time fosse promovido todo ano.</span></span> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;" align="justify"> <span style="font-family:Century Gothic,sans-serif;"><span style="font-size:100%;"> É claro que além disso há também as <i>Sunday Leagues</i>, compostas somente por amadores sem maiores pretensões, veteranos barrigudos, no melhor estilo solteiros x casados. Como o nome indica jogam sempre aos domingos. É para o pessoal poder assistir aos jogos das ligas mais importantes, que acontecem (quase) sempre aos sábados. Eta pessoal fominha... </span></span> </p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;" align="justify"> <span style="font-family:Century Gothic,sans-serif;"><span style="font-size:100%;"> </span></span></p> <p class="western" style="margin-bottom: 0cm;" align="justify"><br /></p>Marcos Alvitohttp://www.blogger.com/profile/04782210285593838126noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4110787133364190377.post-13196149005985896972007-10-29T09:04:00.000-02:002007-10-30T04:32:53.993-02:00Oxford Ladies riding high<a href="http://1.bp.blogspot.com/_IwK76splDDQ/RyXAba6ULEI/AAAAAAAAAFU/MbBlpm-ZCsI/s1600-h/Artigo+Oxford+Ladies+escaneado.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5126715328144092226" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://1.bp.blogspot.com/_IwK76splDDQ/RyXAba6ULEI/AAAAAAAAAFU/MbBlpm-ZCsI/s320/Artigo+Oxford+Ladies+escaneado.jpg" border="0" /></a><br /><br /><br /><div>Oi, pessoal, a crônica dessa semana está novamente em inglês, mas vou dar uma colher de café e a tradução vem logo a seguir. Foi um artigo que publiquei no Oxford Mail sobre o time de futebol feminino do Oxford United (é claro). Já assisti a 3 partidas das Oxford United Ladies e resolvi contar um pouquinho acerca do esforço do técnico e das jogadoras. O artigo mostra que o preconceito contra o futebol feminino não é privilégio do Brasil. Espero que seja interessante e ajude um pouquinho a manter acesa a chama do futebol feminino depois da brilhante Copa do Mundo. Elas têm direito e merecem!</div><br /><div></div><br /><br /><br /><br /><div align="justify">(publicado no Oxford Mail em 26 de outubro de 2007)</div><br /><br /><div align="justify"></div><br /><div align="justify"></div><br /><div align="justify"></div><br /><div align="justify"></div><br /><div align="justify"></div><br /><div align="justify"></div><br /><div align="justify">UNITED'S SUCESSFUL LADIES ARE RIDING HIGH</div><br /><div align="justify"><br />Answer quickly: Which Oxford team today ranks highest in the football pyramid? Oxford United - yes, Oxford United Ladies, writes MARCOS ALVITO.<br />While the U's struggle in non-League and Oxford City compete in the eighth tier, United Ladies play in the fourth level of women's national football.<br />Formed in 2005/6, they were crowned champions in their first season, winning all 25 matches, in addition to the Thames Valley Cup and OxfordShire Cup.<br />The following year they were promoted again. Today they play in the Regional Southern Premier Division.<br />“I don't understand how people cannot play football. It doesn't make sense to me,” says Captain Kim Leslie Pringle, 24.<br />A tough and skilled defender, Kim had already played in the first division with Readind Ladies before joining Oxford United Ladies in the midst of their first season. She would love to play professionally.<br />“If you love football you would do anything to play all day, everyday.”, said Pringle, who graduated in Sports Science from Abingdon College and works for Oxford City Council.<br />The other players also work or study. They all come together to practice two nights a week, near Horspath Road Athletic Track.<br />Some travel one hour by train to be there.<br />Such dedication is also shown during matches, some playing with injuries.<br />They wash their kits, clean their own boots and reach into their own pockets to maintain the club.<br />Sometimes they drive themselves to away matches, leaving early in the morning and arriving home late at night.<br />Their manager, Paul Davis, has a UEFA B license, the same held by Chelsea's manager, Avram Grant.<br />He runs the club in a professional manner. The girls must arrive two hours before the match.<br />As they play on Sunday afternoons (kick-off at 2 pm), he has asked them not to go out on Saturday nights, a severe demand for a team composed mainly of under 25-year-olds.<br />Co-Captain and defender Katherine Boardman, 24, wears the yellow shirt proudly, not only as a player, but also a Oxford United diehard fan and season-ticket holder.<br />She learned to be a tough player practicing with her brothers and other boys, believes there is still prejudice against women's football but having the World Cup being shown on BBC has helped curb that.<br />Pringle is not so optimistic, though, as she said some men still ask if the girls play on a smaller pitch and are surprised by the fact that they play for the same ninety minutes!<br />However, Pringle is passionate about the game.<br />Why? As Kim puts it, in her straightforward manner: “It just gets you away from everything, you have to play, you just forget about everything.<br />For the 90 minutes that you play football, it is just football, there’s nothing else there.”<br />Marcos Alvito is a Brazilian anthropologist currently living in Oxford and writing a book on English Football Culture called The Queen in Boots: 200 days of English Football. </div><br /><div align="justify"><br />For more information about Oxford Ladies, visit <a href="http://www.oulfc.co.uk/">http://www.oulfc.co.uk/</a>. </div><br /><div align="justify"></div><br /><div align="justify"></div><br /><div align="justify">TRADUÇÃO PARA O PORTUGUÊS FEITA NO PARAGUAI... (ficou terrível, tentem ler no original)</div><br /><div align="justify"></div><br /><div align="justify">BEM SUCEDIDAS MENINAS DO UNITED VOANDO ALTO</div><br /><div align="justify"></div><br /><div align="justify">Responda rápido: hoje em dia qual time de Oxford ocupa o lugar mais alto na pirâmide do futebol? Oxford United - sim... Oxford United Ladies, escreve MARCOS ALVITO.</div><br /><div align="justify">Enquanto os U's ´[apelido do Oxford United] sofrem na 5a. divisão e o Oxford City compete na 8a., o Oxford United Ladies joga na 4a. divisão nacional do futebol feminino.</div><br /><div align="justify">Formado em 2005/6, o clube foi campeão na primeira temporada, ganhando todos os 25 jogos, além da Thames Valley Cup e da Oxfordshire Cup.</div><br /><div align="justify">No ano seguinte foram novamente promovidas. Hoje elas jogam na Regional Southern Premier Division.</div><br /><div align="justify">"Eu não entendo como alguém pode não jogar futebol. Não faz sentido para mim," diz a capitã Kim Leslie Pringle, 24.</div><br /><div align="justify">Uma beque central firme e habilidosa, Pringle já jogou na Primeira Divisão com as Reading Ladies antes de ingressar no Oxford United no meio da sua primeira temporada. Ela adoraria jogar profissionalmente.</div><br /><div align="justify">"Se você ama o futebol, você faria qualquer coisa para jogar o dia todo, todos os dias," diz Pringle, que é formada em Ciência do Esporte pelo Abingdon College e trabalha para a prefeitura de Oxford.</div><br /><div align="justify">As outras jogadoras também trabalham e estudam. Elas reunem-se para treinar duas noites por semana no campo do centro de atletismo Horspath.</div><br /><div align="justify">Algumas viajam uma hora de trem para chegar lá.</div><br /><div align="justify">Tanta dedicação é também demonstrada durante os jogos, algumas delas jogando contundidas.</div><br /><div align="justify">Elas lavam seus uniformes, limpam suas chuteiras e tiram do próprio bolso para manter o clube.</div><br /><div align="justify">Algumas vezes são obrigadas a dirigir quando jogam fora de casa, saindo de manhã cedinho e voltando tarde da noite.</div><br /><div align="justify">O técnico delas, Paul Davis, tem uma licença UEFA B, a mesma possuída pelo atual técnico do Chelsea, Avram Grant.</div><br /><div align="justify">Ele dirige o clube de uma forma profissional. As jogadoras precisam chegar duas horas antes do jogo.</div><br /><div align="justify">Como elas jogam no domingo à tarde (início às 14h), ele pediu a elas que não saíssem nos sábados à noite, um pedido espartano para um time composto predominantemente por moças abaixo dos 25 anos.</div><br /><div align="justify">A co-capitã e defensora Katherine Boardman, 24, veste a camisa amarela com orgulho - não somente como jogadora, mas também como uma fanática torcedora do United e portadora de um cartão permanente do clube (season-ticket).</div><br /><div align="justify">Ela aprendeu a ser uma jogadora dura praticando com seus irmãos e outros meninos, e acredita que ainda há preconceito contra o futebol feminino na Inglaterra, mas que a transmissão da Copa do Mundo pela BBC ajudou a diminuir o problema.</div><br /><div align="justify">Pringle não é tão otimista, pois ela afirma que alguns homens ainda perguntam se as meninas jogam em um campo menor e ficam surpresos ao saber que elas jogam durante os mesmos 90 minutos!</div><br /><div align="justify">Entretanto, Pringle é apaixonada pelo jogo.</div><br /><div align="justify">Por quê? Como ela diz, na sua maneira direta: "Quando você tem que jogar, o futebol faz você esquecer de tudo.</div><br /><div align="justify">Durante os 90 minutos que você joga futebol, nada mais importa."</div>Marcos Alvitohttp://www.blogger.com/profile/04782210285593838126noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4110787133364190377.post-78808270980749015492007-10-22T06:50:00.000-02:002007-10-23T03:06:09.462-02:00Muito além do futebol(Publicado em <em>O Estado de São Paulo</em> no dia 22 de outubro de 2007)<br /><br /><br /><br /><br /><strong>Muito além do futebol<br /></strong><br /><br /><br /><br /><div align="right">Marcos Alvito<br /></div><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><div align="justify">Através da panorâmica janela de vidro, avista-se o bem cuidado gramado do Oxford United Football Club. Não estamos, todavia, em um box corporativo ou nas tribunas especiais reservadas aos diretores. Estamos numa sala de aula. Uma sala de aula diferente. </div><br /><br /><div align="justify">Diante de Ed Duckham, 41 anos, ex-professor de História e Educação Física, estão 15 crianças de 10 anos, ouvindo atentamente. Elas são de uma escola primária da região. Virão aqui uma vez por semana. Durante seis tardes, aprenderão matemática, inglês e principalmente computação. Mas não da forma usual e sim utilizando a paixão pelo futebol como elemento motivador. Semana passada eles aprenderam a mexer com programas de fotografia elaborando um passe de entrada no estádio para si próprios. Hoje estão aprendendo inglês: sua tarefa é criar um novo hino para o clube.<br />Primeiro Ed faz alguns exercícios de ortografia. Em um telão do tipo daqueles que são usados nos pubs para transmitir os jogos da Premier League, há frases que têm de ser completadas pelos meninos e meninas. Cada um deles usa um controle que parece controle remoto de televisão, mas na verdade permite a eles escolher a resposta certa. E o rendimento e os acertos de cada um são automaticamente registrados pelo computador. Isto permite ao professor perceber rapidamente que alunos estão tendo mais dificuldade. Em seguida, Duckham compõe uma música junto com eles, novamente usando um programa de computador. Está música servirá de base à letra que cada um irá escrever. Isto foi só o aquecimento.<br />Agora vem a parte mais emocionante: saímos da bem equipada sala, onde há um computador de última geração para cada um e descemos para os vestiários. Ali, diante de uma platéia que parece beber cada uma das suas palavras, olhinhos de criança brilhando, No quadro negro, a escalação real da última partida jogada pelo Oxford United. Na parede, uma camisa amarela de um dos jogadores. Ed pede para eles imaginarem-se como jogadores antes de entrarem em campo. Eles registram três palavras que sintetizam a experiência. É tudo rápido, dinâmico, as crianças não têm a menor dificuldade em cumprir a tarefa. Há um ar de aventura que deveria existir em toda a sala de aula.<br />Os alunos-jogadores atravessam o túnel para entrar em campo diante de doze mil torcedores imaginários. Escrever o hino do clube é a próxima tarefa. O professor (vestido como um jogador de futebol), pede a eles que sentem-se nas arquibancadas mantendo uma distância de pelo menos dez assentos entre eles. Aproveito aqueles minutos para conversar um pouco com ele. “Eu era professor há cinco anos, mas percebia que hoje em dia as crianças não são mais capazes de ficar paradas diante de alguém a falar”. Adora seu trabalho aqui, só lamenta não poder ficar mais tempo com as crianças: “Eu conheço pelo menos 3 mil crianças em Oxford, mas nenhuma delas muito bem, porque o período que passam comigo é muito breve”. Ele recusou uma oferta do Chelsea, seu time do coração, para continuar trabalhando no Oxford Learning United.<br />Escritas as letras, voltamos para a sala de aula, onde agora as crianças fazem um lanchinho de torrada com queijo e geléia. E começa o segundo tempo: agora vão juntar letra e música, usando um programa de computador que simula diversos tipos de vozes. Cada novo “hino” do clube é então gravado por eles em sua pasta individual no computador. O computador só aceita palavras corretamente digitadas, o que proporciona mais um prazeroso exercício de ortografia. Ed avisa que os dois melhores serão colocados no site do clube. Imaginem a emoção de um garoto ou menina de dez anos a criar um novo hino para o Flamengo....<br />Prorrogação: bolar um novo uniforme para o clube. Aqui a diferença entre meninos e meninas é gritante. Eles são mais conservadores, praticamente não alteram as cores azul e amarela do Oxford United. Já as meninas desenham uniformes cor de rosa, multicolores, incluindo fotos e por aí vai. Quando perguntei a Ed se ele percebia alguma diferença entre meninos e meninas em termos de entusiasmo ele disse que não. Na verdade, até os 12-3 anos as meninas são tão ou mais entusiasmadas com o trabalho. A partir dessa idade elas já querem conhecer os jogadores...<br />Terminado o jogo, os alunos-jogadores recebem seu prêmio: uma borrachinha amarela com o boi que simboliza o Oxford United. É que a palavra Oxford vem de Ox (boi) Ford (passagem). Oxford era um bom local para atravessar o rio Tâmisa com os bois. Ed Duckham explica que aquelas borrachas não estão à venda na loja do clube. Por falar nisso, na semana seguinte irão aprender matemática a partir de um exercício na loja do clube.<br />É a hora de entrevistar os craques. Primeiro converso com Georgia, 10 anos, sorriso inteligente e cheio de vida. Ela diz que a aula aqui é muito mais divertida do que na escola e que na verdade aprende-se mais. Ela não tinha time até hoje, mas agora passou a torcer pelo Oxford United. Só joga futebol nas aulas de Educação Física, pois ela na verdade é uma amazona. Tassif, com a mesma idade, parece mais tímido mas é igualmente vivaz e inteligente. Ele diz que mudou de escola várias vezes. Tassif escreve com muita facilidade o trabalho feito naquela tarde, mas pensa dois segundos antes de comparar a escola normal com o Oxford Learning United, com prejuízo para a New Marsten Primary School onde ele e Georgia estudam. Ele é torcedor do Manchester United.<br />O Oxford Learning United é parte de um programa do Ministério de Educação da Inglaterra. Chama-se Playing for Success e envolve clubes de futebol, rugby e cricket em toda a Inglaterra. Fico imaginando um projeto semelhante no Brasil, guardadas as devidas proporções. Na terra de Pelé e Ronaldinho, em que quase toda a criança sonha em ser jogador, o futebol ainda é um continente inexplorado em termos das suas possibilidades em sala de aula. Nossas “escolinhas de futebol” servem somente para os clubes embolsarem alguns trocados às custas do sonho quase impossível de se tornar um jogador de futebol. Nos dias em que não há partidas, nossos estádios são gigantes adormecidos e inúteis. E muitos deles são financiados com dinheiro público de governos estaduais e prefeituras pelo Brasil afora.<br />Para os clubes envolvidos no projeto, o interesse é duplo. Por um lado, desenvolvem um trabalho de responsabilidade social junto à comunidade local. Por outro, aproveitam para tentar conquistar novos fãs. Os meninos e meninas recebem ingressos para assistir a um jogo do Oxford United. Lamentavelmente, devido à configuração atual do futebol, os clubes da poderosa Premier League são preferidos de muitos: Chelsea, Arsenal e Manchester United. Mas três deles dizem torcer para o Oxford – além de duas meninas que insistiam em dizer que torciam pelo Brasil. Mas isso não tem tanta importância. Porque o que aconteceu nesta bela tarde de verão vai muito além do futebol.</div>Marcos Alvitohttp://www.blogger.com/profile/04782210285593838126noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4110787133364190377.post-23193913797066350762007-10-15T19:18:00.000-02:002007-10-17T11:26:14.200-02:00Yellow Submarine<a href="http://4.bp.blogspot.com/_IwK76splDDQ/RxPbOBnWIGI/AAAAAAAAACY/7tTpxKlrh8o/s1600-h/YellowSub.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5121678235248500834" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://4.bp.blogspot.com/_IwK76splDDQ/RxPbOBnWIGI/AAAAAAAAACY/7tTpxKlrh8o/s320/YellowSub.jpg" border="0" /></a><br /><br /><br /><div align="justify"><span style="font-family:verdana;">Oi, pessoal, a crônica desta semana está em inglês. O motivo é simples: foi publicada em 11 de outubro no programa do Oxford United F.C., dia do jogo contra o Torquay (ver foto acima). Foi escrita a pedido do Press Officer do clube, Chris Williams, depois que eu visitei o estádio, assisti alguns jogos e vi um trabalho lindíssimo que utiliza o futebol para ensinar Inglês, Matemática e Computação (crônica que está para ser publicada no Estadão). Resolvi não traduzir porque algumas (senão todas) piadas são intraduzíveis. Como o meu inglês está mais para Western-Spaghetti do que para Shakespeare, tenho certeza que vocês não terão dificuldade em ler.</span></div><br /><div><span style="font-family:verdana;"></span></div><br /><br /><br /><div><br /><strong><span style="font-family:verdana;">Yellow Submarine</span></strong></div><br /><br /><br /><div align="justify"><br /><span style="font-family:verdana;">For Jack Casley<br />I still don't hate Swindon, but I'm working on it. The first time I came to Oxford was two years ago, unfortunately during the non-football season. All I could do was bike myself until I-am-not-going-to-write-his-name Stadium and peek through the fence to admire our perfect pitch. I did go to the club shop and bought a nice mug, but that was all. Two years later and here I am, writing this humble testimony of a Brazilian's love for the Yellows. How did that happen? I am currently writing a book called The Queen in Boots: 200 days of English Football. Living in Oxford, I have decided to see some matches and write about a club now (temporarily) at Conference Level. First match: a friendly, and a 2x1 win over Bornemouth. Good start. Then another friendly, this time a draw with Wycombe, 1x1. By then I still couldn`t understand all the songs, but this time I could grasp the fans' passion and heard “If you hate Swindon, stand up” for the first time.” But I didn't move an inch.<br />Next step... researching and reading about the club, discovering its rich and interesting past: two successive promotions, Milk Cup, Robert Maxwell and you know who. After e-mailing the club, Chris Williams gave me a special tour of Oxford United, talking openly about the club's challenges with a true fan insight. That was all it took for me to embark in the Yellow Submarine. When I visited Oxford Learning United and saw the wonderful work Ed Duckham does with boys and girls from local schools I caught Yellows' Fever...<br />So here I was, on a very cold Tuesday night (for Brazilian standards at least), hoping Jim Smith's boys could hammer Salisbury for good. I went disguised as a Brazilian writer, but It took all my will power not to celebrate our second goal, when Duffy scored a penalty kick with flair and class. Wise Ambrose had given me this prophetic tip: people don't celebrate in the press section, they just clap.<br />Flamengo has been my passion for 47 well lived years. It is the most popular Brazilian football team, and we supporters, 35 million and counting, call ourselves “the red and black nation.” We were national champions five times and even beat Liverpool 3x0 in the 1981 Toyota Cup. So, when I came to England I hoped to support a popular club, probably in the Premier League. But after watching some Premier League matches I couldn't feel anything towards any of these powerful and very rich clubs. As the old Beatles song says “Can't buy me love”...<br />When I visited Oxford United I was struck by professionalism combined with true fan enthusiasm. That cold night against Salisbury I interviewed our first professional player, Jack Casley, 81, just minutes before the start of the match. After all these years, his eyes still shine when he talks about the Yellows. That is why I am quite sure, poor Swindon, next time I am going to stand up. </span></div><br /><div align="justify"><br /><strong><span style="font-family:verdana;">Marcos Alvito</span></strong></div>Marcos Alvitohttp://www.blogger.com/profile/04782210285593838126noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4110787133364190377.post-61148713489558705112007-10-08T12:10:00.000-03:002007-10-09T18:38:23.657-03:00Kia e a Liga dos Magnatas(publicado no Estadão em 16 de setembro de 2007; aqui vai a crônica original, um pouquinho mais apimentada do que a versão publicada no jornal)<br /><br /><br /><br />Marcos Alvito<br /><br /><br /><br />Pode não servir de consolo aos corintianos, mas Kia Joorabchian também andou aprontando aqui na Inglaterra. Todos se lembram que Tevez foi escolhido o melhor jogador do Campeonato Brasileiro de 2005. Em seguida, KJ empresta Tevez e Mascherano ao West Ham, um clube mediano da bilionária Premier League. E Tevez acabou fazendo gols importantes, levando o West Ham a vencer sete dos seus últimos nove jogos e evitando o rebaixamento do clube. Acontece que pela legislação inglesa os direitos federativos de um jogador não podem estar nas mãos de terceiros. Ou seja, a contratação de Tevez foi aquilo que um jornalista inglês chamou de “farsa”. Aí começou a confusão. KJ, depois de ver a sua mercadoria valorizada, queria repassá-la ao Manchester United, um dos clubes mais ricos do planeta. O West Ham não queria liberar Tevez. Outros clubes queriam ver o West Ham perder os pontos e ser rebaixado. As autoridades da Premier League lavaram as mãos. Impuseram uma pesada multa de 5,5 milhões de libras (22 milhões de reais) ao West Ham, mas não o fizeram perder pontos. Tevez, é claro, começou a temporada atual vestindo a camisa vermelha do Manchester United.<br />Kia, na verdade, é apenas a ponta de um iceberg de corrupção envolvendo os clubes da Premier League. Antes da temporada atual começar, estourou um escândalo envolvendo relações duvidosas entre técnicos e empresários. Isto levou a polícia inglesa a invadir a sede de três clubes de madrugada, como se Rangers, Portsmouth e Newcastle fossem fortalezas da máfia. E talvez sejam...<br />Boa parte dos bilhões que circulam na poderosa primeira divisão inglesa vieram de fora. De vinte clubes, nove têm proprietários estrangeiros. Alguns, de reputação duvidosa, como o primeiro estrangeiro a comprar um clube da então Premiership no verão de 2003, o agora famoso Roman Abramovich. Em apenas dois anos ele investiu 210 milhões de libras. Com o dinheiro russo, um arrogante e polêmico técnico português - José Mourinho, agora desempregado - e dúzias de jogadores estrangeiros dos quatro cantos do globo, o Chelsea foi campeão inglês nas temporadas de 2004-5 e 2005-6, além de ter chegado quase até a final da Champions League. Diz-se que a fortuna de Abramovich é proveniente das nebulosas privatizações ocorridas após o fim do regime comunista na Rússia. Devem ter sido ótimos negócios, porque Abramovich teve um prejuízo de 80 milhões de libras somente na temporada 2005-6 e mesmo assim não dá sinais de que vá cessar de botar a mão no bolso. Qual será a razão de tanto desprendimento ? Perguntem ao Kia...<br />O mais recente membro deste seleto clube é Thaksin Shinawatra, ex-primeiro ministro da Tailândia, que comprou o Manchester City em julho de 2007. Ex-oficial da polícia, Thaksin tornou-se bilionário como proprietário de uma empresa do setor de telefonia móvel e mídia. Chegou ao poder em 2001. Derrubado por um golpe militar em outubro de 2006, exilou-se na Inglaterra. Hoje ele é processado por corrupção pelo atual governo, que congelou um bilhão de libras da fortuna de Shinawatra. Além disso, a respeitada organização mundial de direitos humanos Human Rights Watch encaminhou um protesto formal à Premier League, acusando o atual proprietário do Manchester City de ser um “transgressor dos direitos humanos da pior espécie”. Detalhes? Ataques à liberdade de imprensa e uso de uma suposta guerra às drogas para desaparecer com pessoas desagradáveis. Na Tailândia ele é chamado de Ai Na Liam, “o cara quadrada”, um trocadilho para trambiqueiro. A Premier League, cujo regulamento estabelece que para ser proprietário de um clube é preciso ser uma pessoa “correta e honesta”, fez de conta que não sabia de nada e lavou as mãos novamente.<br />Não é de estranhar este pragmatismo (para dizer o mínimo) da Premier League. A então Premiership foi criada em 1992 exatamente para romper as últimas amarras que impediam a transformação da primeira divisão da liga em um negócio bilionário. Antes de 1992, por exemplo, o dinheiro proveniente dos direitos de televisão era repartido pela Football League de forma razoavelmente equilibrada: 50% iam para os clubes da antiga 1a. Divisão, 25% para os da 2a. e os clubes da 3a. e 4a. divisões dividiam os restantes 25%. Hoje em dia a Premier League negocia com exclusividade os direitos de tv de um campeonato que é transmitido para mais de 200 países. Para as três temporadas entre 2007-8 e 2009-10, estes direitos foram vendidos por 2,7 bilhões de libras. Desta soma inacreditável, apenas 1,2% vai para a Football League (leia-se, os clubes da 2a., 3a. e 4a. Divisões).<br />As consequências mais danosas, todavia, talvez tenham sido as esportivas. Dinheiro chama dinheiro, reza o ditado. Os clubes mais ricos, que podem investir em melhores jogadores, tendem a monopolizar as melhores colocações, arrebatando prêmios, conseguindo patrocínios milionários e a parte do leão dos direitos de tv. A boa colocação também permite a participação nas competições européias (sobretudo a riquíssima Champions League), o que traz mais dinheiro de direitos de tv, prêmios por participação, patrocínio etc. Com isso conseguem mais dinheiro, que permite comprar melhores jogadores e por aí vai... Não admira que já se vendam camisas dizendo “De saco-cheio dos quatro grandes”. Há também reações mais politizadas e organizadas. Torcedores inconformados com a venda do Manchester United para um milionário americano criaram um clube próprio, chamado FC United of Manchester. Codinome: rebels (rebeldes).<br />Mas por enquanto, a liga de futebol mais rica do mundo não está dando a menor bola para os protestos ou para os esquemas alternativos. Ou seja, pouco importa que Thaksin Shinawatra seja tailandês, Abramovich e Gaydamak (Portsmouth) russos, Eggert Magnusson (West Ham) islandês e Carson Yeung (Birmingham City) chinês de Hong Kong. Ou até que Kia Joorabchian seja iraniano.Todos eles falam muito bem a única língua entendida na Premier League: grana.<br /><br /><br /><span style="color:#3366ff;">A PRÓXIMA CRÔNICA, a INÉDITA "Yellow Submarine", será postada na 3a. feira, 16 de outubro</span>Marcos Alvitohttp://www.blogger.com/profile/04782210285593838126noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-4110787133364190377.post-12443724259502942132007-10-02T12:18:00.000-03:002007-10-04T06:00:42.889-03:00O verdadeiro país do futebolA RAINHA DE CHUTEIRAS: 200 dias de futebol na Inglaterra<br /><br />Marcos Alvito<br /><br /><strong>O verdadeiro país do futebol</strong> (crônica publicada em <em>O Estado de São Paulo</em>, no dia 2 de setembro de 2007; aqui vai a crônica original, um pouco maior)<br /><br />Nossos políticos podem não ser grande coisa, mas todo brasileiro nasce, cresce e morre pensando que vive no país do futebol. Talvez seja melhor escolher com cuidado o seu candidato nas próximas eleições, porque o país do futebol é a Inglaterra. Claro, só o Brasil é penta (por enquanto), Pelé não nasceu em Oxford e David Beckham não chega a valer um drible do Ronaldinho. Todavia, caro leitor, em que país os jornais publicam os resultados da 5a. Divisão ? Aliás, publicam os resultados da 6a. Divisão. Os da 5a. Divisão são analisados um a um e por vezes são transmitidos na televisão a cabo, ou seja, há torcedores dispostos a pagar para vê-los. Em que país os torcedores colecionam os programas dos jogos ? Sim, porque jogo de futebol na Inglaterra é que nem ópera, tem programa e tudo, que inclui não somente as escalações, tabela com os próximos jogos e fotos dos ídolos, mas até a história do clube adversário. Estas relíquias são passadas de pai para filho e podem ser leiloadas a um bom preço décadas depois. Vendem-se também estojos de couro para que elas possam ser guardadas com carinho.<br />Tá certo, futebol não é ópera, mas o nosso argumento aqui é o seguinte: a cultura do futebol é muito mais forte na Inglaterra: brasileiro adora jogar futebol, adora ver futebol e discutir futebol. O inglês, além de tudo isso, viaja centenas de quilômetros de trem para ver seu clube (estou falando de torcedores normais, não se trata de torcidas organizadas como no Brasil) , enfrentando frio, chuva e neve, e eventualmente a torcida adversária e a polícia. Dezenas de milhares adquirem o pacote de todos os jogos do seu time durante a temporada, e muitos deles gabam-se de não haver perdido um só jogo durante décadas. E não estou falando somente dos grandes times como no Brasil, cujos 13 maiores clubes concentram 80% da torcida. Na Inglaterra o cara torce para o Birmingham City, um time que não ganhou nada em 130 anos de história e que mesmo nas últimas colocações leva mais de 20 mil pessoas ao estádio. Ou para o Oxford United, que já ganhou alguma coisa mas hoje está na 5a. Divisão e teve média de quase 7 mil espectadores por jogo na temporada passada (2006-7), pouco abaixo da média de público do campeonato brasileiro de 2004, que foi de 8 mil torcedores.<br />O futebol no Brasil tem pouco mais de 100 anos, enquanto os ingleses já falavam de futebol há quatrocentos anos atrás, dêem uma olhada no <em>Rei Lear</em> de Shakespeare para ver se estou mentindo. Por falar nisso, no campo das publicações os ingleses dão de goleada, sem dúvida refletindo um maior grau de escolaridade e renda. Enquanto os nossos literatos, no dizer de Nelson Rodrigues, não sabem bater um mísero corner, na Inglaterra montanhas de livros sobre futebol chegam às livrarias todos os anos. Há de tudo um pouco: enciclopédias, livros sobre a história de um clube ou do seu estádio, biografias autorizadas ou não de jogadores, técnicos, dirigentes (sim, sim) e até de juízes (aí já é demais !). Até os piores hooligans escrevem suas memórias (ou pagam alguém para fazê-lo) e há também os livros acadêmicos que tentam explicar esse e outros fenômenos. Há também grande literatura, como o merecido best-seller de Nick Hornby, <em>Fever Pitch</em>, contando as memórias de um torcedor fanático (redundância) do Arsenal na década de 80. Esse e muitos outros livros foram para a tela do cinema, alguns com muito sucesso, como <em>Football Factory</em>, uma fictícia memória de um hooligan que virou série de televisão.<br />Além dos já referidos programas oficiais dos jogos, há os <em>fanzines</em>, publicações irreverentes escritas por torcedores para protestar contra tudo: desde o preço dos ingressos e o atacante que não faz gol até a venda do clube para um milionário estrangeiro. Ou seja, o torcedor lê futebol, escreve futebol, respira futebol. A grande imprensa publica cadernos de esportes com até 20 páginas em que o futebol é o centro. Antes do início da temporada de futebol todos os jornais publicam suplementos especiais contendo não somente as previsões, contratações e análises, mas instruções detalhadas de como viajar até um estádio, quais os pubs onde é seguro beber sem ser linchado pela torcida adversária e até sobre a qualidade das tortas salgadas servidas no estádio, cuja arquitetura também é comentada. Isso para ficar somente nos jornais. No rádio, até a famosa e respeitável BBC tem uma estação exclusiva para esportes onde o futebol é o maior destaque, é claro. Há vários programas em que os torcedores debatem com os comentaristas diretamente, ao vivo. É melhor nem falar da televisão; basta dizer que os direitos de transmissão das próximas 3 temporadas foram vendidos pela módica quantia de 2,7 bilhões de libras (aproximadamente 11 bilhões de reais).<br />As apostas, sobretudo em jogos de futebol, são uma grande indústria (é uma dessas empresas que patrocina o já tão comentado campeonato da 5a. Divisão), e você pode apostar em quase tudo: quem vai vencer, o resultado exato do jogo, que jogador vai marcar primeiro ou por último, quando vai sair o primeiro gol e por aí vai. Muitas vezes há casas de apostas dentro dos estádios e é claro que se pode apostar pela Internet.<br />Claro, você é brasileiro e não desiste nunca. Mas que tal essa: já ouviu falar de algum apaixonado torcedor brasileiro que tenha solicitado que após a morte suas cinzas sejam espalhadas sobre o campo ? Não ? Pois bem, um único clube, o Manchester United, recebe 25 pedidos deste tipo por ano. Seu vizinho menos rico, o Manchester City, recebe apenas 12... Em 1993 a Football Association teve que publicar instruções sobre como atender a estes pedidos sem prejudicar os gramados. Acontece que a maioria dos defuntos tem preferência pelo círculo central e pela marca do pênalti como destino final. Uma das dicas da Football Association: “procure espalhar bem as cinzas, a concentração num determinado local pode matar a grama”.<br />Não está convencido ainda ? Tudo bem. Nas próximas páginas vamos tratar de assuntos como os já mencionados e outros como os cantos dos torcedores, a importância dos pubs para o futebol, as rivalidades mais incendiárias, o que os ingleses pensam do futebol brasileiro (que eles chamam de <em>jogo bonito</em>), hooligans, o futebol retratado pelas artes plásticas, rugby (um primo do futebol), a história do futebol inglês e por aí vai. Pode ser até que você não fique convencido de que a Inglaterra é o verdadeiro país do futebol, mas não fique muito certo disso. Afinal, o futebol, no Brasil ou na Inglaterra, é uma caixinha de surpresas.<br /><br /><br />PRORROGAÇÃO:<br />Vou até Nottingham, terra do famoso xerife que nunca conseguia prender o Robin Wood. O time da casa, N.Forest, enfrenta o Leeds (ver crônica "Duelo na Terra de Robin Hood", ainda a ser postada neste blog). Pois bem, avisto um torcedor devidamente trajado nas cores do Leeds (amarelo e branco), mas estranho o fato dele estar sentado com um cachorro a seus pés. O animal era um cachorro-guia. O sujeito era cego...<br /><br /><br /><span style="color:#3366ff;">A PRÓXIMA CRÔNICA, "Kia e a Liga dos Magnatas", será postada na 3a. feira, 9 de outubro</span>Marcos Alvitohttp://www.blogger.com/profile/04782210285593838126noreply@blogger.com15