Na temporada atual o número de estrangeiros aumentou de 123 para 196, vindos de 66 países diferentes. O Bolton Wanderers, por exemplo, é uma verdadeira “Legião Estrangeira”, com 24 países diferentes representados na equipe. O Arsenal, que tem liderado a maior parte da atual temporada, normalmente entra em campo com 11 estrangeiros. O Arsenal, aliás, foi o primeiro clube na história do futebol inglês a escalar 16 jogadores (11 em campo + 5 no banco de reservas) estrangeiros em 2005. Mais de 100 jogadores que participaram da Copa de 2006 jogam hoje em campos ingleses.
Por um lado, esta é uma história de sucesso retumbante. A média de público passou de 21 mil em 1992 para 35 mil em 2007-8, o que equivale a uma taxa de ocupação dos estádios superior a 90%. A Premier League é hoje uma febre planetária, assistida pela telinha em mais de 200 países, com um público acumulado de mais de 3 bilhões de telespectadores. É aquilo que os economistas chamam de um “círculo virtuoso”: os direitos de transmissão geram recursos que são investidos na contratação dos melhores jogadores do planeta, atraindo mais audiência e por sua vez levando ao aumento no valor dos direitos televisivos. A Premier League vendeu os direitos de transmissão das próximas 3 temporadas, até 2009-10, pelo equivalente a 11 bilhões de reais. Só para se ter uma idéia, a primeira divisão espanhola, a outrora hegemônica La Liga, onde jogam Ronaldinho, Messi e Robinho, dentre outros, recebe um terço disso pelos direitos de transmissão do seu campeonato.
Essa dinheirama toda é utilizada em grande parte para a contratação de jogadores e pagamento de salários. Na atual temporada os 20 clubes da primeira divisão inglesa já gastaram mais de 2 trilhões de reais em tranferências. Mesmo as mais ricas ligas européias ficam à mercê do maior poderio econômico da Premier League. Estrelas de primeira grandeza em seus países, como o alemão Ballack ou o espanhol Fernando Torres, transferem-se por somas milionárias que clubes como Bayern de Munique ou Atlético de Madri hoje não têm condições de igualar. Há uma verdadeira pilhagem dos jovens talentos e mesmo um clube do porte do Real Madri vê jogadores das suas divisões de base sugados pelo furacão Premier League. Foi assim com o argentino Gerardo Bruno, de 15 anos, contratado pelo Liverpool em novembro de 2007, depois de passar 3 anos nas divisões de base do Real. Como resumiu muito bem o técnico das divisões de base do clube espanhol: “Isso acontece todo o tempo na Inglaterra. Quando eles vêem alguém de quem eles gostam, levam-no embora.” Cristiano Ronaldo, por exemplo, foi contratado pelo Manchester United depois de uma boa atuação contra os Red Devils quando ele ainda vestia a camisa do Sporting de Lisboa.
Na verdade, a Premier League pode ser considerada um empreendimento típico do capitalismo global. Nove dos vinte clubes têm proprietários estrangeiros, quase sempre bilionários sem maiores ligações com o futebol enquanto esporte e sim como big business. Vêem-se crianças com camisas do Manchester United nos quatro cantos da Terra e o clube alega ter 333 milhões de fãs em 21 países diferentes. Os principais clubes fazem pré-temporadas na Ásia, de olho em um mercado que cresce a cada dia. Ou seja, é uma liga jogada na Inglaterra, mas por jogadores de todo o mundo para uma platéia igualmente planetária.
Um comentário:
O engraçado mesmo é ver ingleses reclamando que o domínio estrangeiro é um fator determinante para o insucesso do English Team. Antes fosse...mas a verdade é que já não é de hoje que os lads fracassam em competições internacionais.
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